terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O silêncio





O silêncio é algo que me assusta e que, ao mesmo tempo, me enerva. Gosto muito de silêncio, mas um silêncio procurado por mim, no recanto do meu quarto, onde só estou eu e, no máximo, o computador e a televisão. Às vezes preciso desse silêncio para conseguir pensar, colocar as ideias em ordem, delinear estratégias para a minha vida.
No entanto, quando se trata do silêncio das palavras que não oiço, o silêncio do que quero ouvir e que teima em não se fazer escutar, esse sim afecta-me.
Detesto o silêncio usado como resposta, não gosto de falar para o ar, não sei viver a falar sozinha. Adoro falar, adoro uma boa conversa, adoro como dizem os brasileiros “uma boa prosa”. Detesto uma mesa de café onde ninguém fala, onde ninguém diz nada e se instala o silêncio, esse silêncio que me constrange, que me deixa inquieta, com vontade de dizer – e quê?
Confesso, não sou de muitas palavras se não conhecer as pessoas com quem estou, mas, por isso, me rodeio de quem fala como se não houvesse amanhã, pessoas que gosto de ouvir, pessoas que me dizem o bom e o mau.
Se há coisa que me tira do sério é que me ignorem, que não me respondam a uma pergunta (é certo que faço muitas, defeito de profissão, mas quando as faço é porque são pertinentes, pelo menos para mim). Este silêncio das palavras que pode ser também o silêncio das letras que não se escrevem, tira-me do sério.
A som de uma palavra, a pronúncia de cada termo, o som da voz fascinam-me.
Muitas vezes digo que sou uma apaixonada por vozes e sou mesmo. O que é melhor do que ir numa qualquer viagem, onde o rádio é a única companhia, e ouvir uma bela voz seja feminina ou masculina?
O exercício que fazemos (pelo menos eu faço sempre) para saber quem está do outro lado, quem dá corpo a essas vozes magníficas que nos entram pelos ouvidos, é algo que entretém, que nos faz exercitar o cérebro.
Desde pequena que tenho esse fascínio de descobrir quem se esconde atrás de uma bela voz, quem será a pessoas que me anima, que me informa, através da caixa que fala. Quem nunca fez este exercício? Eu já o fiz centenas de vezes, aliás, faço-o sempre que oiço uma voz diferente.
E quantas vezes, damos por nós a imaginar a pessoa pela voz e depois quando descobrimos quem é, verificamos que nada tem a ver?
Quantas vezes isso me aconteceu….
E, quando olho para trás, penso se este misticismo, este gosto pelas vozes fortes, cheias de vida, não terá sido um dos motivos da minha escolha de vida, da minha escolha profissional? Olhando para trás, acredito que talvez, tenha pesado um bocadinho....
A cada dia que passa, faço o mesmo exercício que fazia quando era pequena e não me cansava de perguntar “quem é que está a falar? Como é que entra no rádio? Como se chama?”.
E se o silencio fosse o caminho? Que era feito das vozes, da rádio, da TV, das conversas entre amigos, das discussões saudáveis e das outras também?
O que seria do entendimento entre as pessoas se o silêncio fosse o mote?
Como se resolveriam mal entendidos se todos optassem pelo silêncio?
Como diria uma bonita voz de uma qualquer rádio nacional “Já agora, vale a pena pensar nisso”.


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