terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O silêncio





O silêncio é algo que me assusta e que, ao mesmo tempo, me enerva. Gosto muito de silêncio, mas um silêncio procurado por mim, no recanto do meu quarto, onde só estou eu e, no máximo, o computador e a televisão. Às vezes preciso desse silêncio para conseguir pensar, colocar as ideias em ordem, delinear estratégias para a minha vida.
No entanto, quando se trata do silêncio das palavras que não oiço, o silêncio do que quero ouvir e que teima em não se fazer escutar, esse sim afecta-me.
Detesto o silêncio usado como resposta, não gosto de falar para o ar, não sei viver a falar sozinha. Adoro falar, adoro uma boa conversa, adoro como dizem os brasileiros “uma boa prosa”. Detesto uma mesa de café onde ninguém fala, onde ninguém diz nada e se instala o silêncio, esse silêncio que me constrange, que me deixa inquieta, com vontade de dizer – e quê?
Confesso, não sou de muitas palavras se não conhecer as pessoas com quem estou, mas, por isso, me rodeio de quem fala como se não houvesse amanhã, pessoas que gosto de ouvir, pessoas que me dizem o bom e o mau.
Se há coisa que me tira do sério é que me ignorem, que não me respondam a uma pergunta (é certo que faço muitas, defeito de profissão, mas quando as faço é porque são pertinentes, pelo menos para mim). Este silêncio das palavras que pode ser também o silêncio das letras que não se escrevem, tira-me do sério.
A som de uma palavra, a pronúncia de cada termo, o som da voz fascinam-me.
Muitas vezes digo que sou uma apaixonada por vozes e sou mesmo. O que é melhor do que ir numa qualquer viagem, onde o rádio é a única companhia, e ouvir uma bela voz seja feminina ou masculina?
O exercício que fazemos (pelo menos eu faço sempre) para saber quem está do outro lado, quem dá corpo a essas vozes magníficas que nos entram pelos ouvidos, é algo que entretém, que nos faz exercitar o cérebro.
Desde pequena que tenho esse fascínio de descobrir quem se esconde atrás de uma bela voz, quem será a pessoas que me anima, que me informa, através da caixa que fala. Quem nunca fez este exercício? Eu já o fiz centenas de vezes, aliás, faço-o sempre que oiço uma voz diferente.
E quantas vezes, damos por nós a imaginar a pessoa pela voz e depois quando descobrimos quem é, verificamos que nada tem a ver?
Quantas vezes isso me aconteceu….
E, quando olho para trás, penso se este misticismo, este gosto pelas vozes fortes, cheias de vida, não terá sido um dos motivos da minha escolha de vida, da minha escolha profissional? Olhando para trás, acredito que talvez, tenha pesado um bocadinho....
A cada dia que passa, faço o mesmo exercício que fazia quando era pequena e não me cansava de perguntar “quem é que está a falar? Como é que entra no rádio? Como se chama?”.
E se o silencio fosse o caminho? Que era feito das vozes, da rádio, da TV, das conversas entre amigos, das discussões saudáveis e das outras também?
O que seria do entendimento entre as pessoas se o silêncio fosse o mote?
Como se resolveriam mal entendidos se todos optassem pelo silêncio?
Como diria uma bonita voz de uma qualquer rádio nacional “Já agora, vale a pena pensar nisso”.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A amizade é uma planta que tem de ser regada todos os dias







«A amizade é como uma planta, que temos de regar todos os dias, porque se não ela morre. Amizade não é depender do outro, é ter aquela coisa quente de  alguém que está preocupado comigo” – ouvi esta definição da boca de um actor português, num programa de sábado à tarde e fiquei a pensar nela.
De facto, amizade é isso mesmo, como ele dizia, “é pegar no telefone e perguntar: estás bem, dói-te a cabeça?”. No fundo é ligar só para dizer “eu estou aqui”.
Na vida achamos que temos muitos amigos, que podemos contar com muitas pessoas se estivermos num momento de aflição, mas, na verdade, quem é que nos liga só para saber como estamos? Poucos, muito poucos, aqueles que realmente escolhemos para nos acompanhar na nossa vida e nos mostram que valeu a pena a escolha.
Na vida, conhecemos muitas pessoas, umas que passam e nunca mais nos lembramos, outras que nos marcam, mas que não nos acompanham, e outras ainda que nos acompanham na caminhada da nossa vida.
No meu percurso, tenho vários exemplos das diferentes hipóteses.
Quando era mais pequena, é verdade, tinha mais facilidade de fazer amizades, se bem que nunca tenha sido de as fazer por tudo e por nada. Antes de me dar, analiso, pondero, esmiúço ao máximo os prós e os contras. Só depois de ter a certeza (ou pelo menos achar que sim) é que fazia e faço desses conhecidos, amigos.
Com tantas cautelas, não fiz assim tantos amigos na vida, mas fiz os suficientes, para ser feliz e para ter alguém ao meu lado sempre que preciso, sempre que o sol não brilha cá dentro.
Com o passar dos anos, tornei-me ainda mais selectiva e fazer amizades, só mesmo com certezas e essas absolutas, e, nos últimos anos, posso contar pelos dedos de uma mão, os novos amigos que fiz, que, embora não sejam muitos, são muito bons.
Não vou dizer que não me desiludi com as minhas escolhas, claro que sim. Houve pessoas a quem me dei, que não mereciam, que me magoaram, como certamente, houve pessoas às quais eu não correspondi como deveria, mas a vida é assim mesmo.
Na mesma entrevista, o actor que dá pelo nome de Manuel Cavaco dizia “oxalá, tenhas um amigo na hora da morte” – isto para dizer que não é necessário termos muitos amigos – ou que se dizem amigos - o que importa é ter, pelo menos um (no sentido figurado), que lá esteja nos bons e nos maus momentos.
Eu posso dizer que sou uma privilegiada, tenho de facto alguns desses de quem o Manuel Cavaco falava no programa “Alta Definição”.
Na mesma conversa, o actor, entre as histórias da sua vida, marcadas pelo trauma da guerra colonial, todas as vezes que se referia à família e aos amigos, a voz embargava-se de emoção – mostrando, sem precisar de falar, a importância daqueles a quem quer bem.
Numa conversa, em que confessou não ser um bom conversador, ser tímido e sem grandes histórias para revelar, lá foi dizendo frases chave que eu guardei e analisei.
Dizia o senhor, cujo percurso de vida já lhe dá algum estatuto, que “gosta de gostar”.
Quem não gosta de gostar? Quem não gosta de dar e receber? Isto é uma verdade, que raramente pensamos e que raramente dizemos, mas que nos acompanha.
Eu também gosto de gostar de quem está ao meu lado, de quem me faz bem. Gosto de dizer que gosto, gosto de lembrar que estou lá, gosto de estar perto dos que mais amo.
Dizia ele “não pedimos para nascer, nem para morrer, portanto temos de aproveitar o meio”. 
E que melhor forma de aproveitar o meio, senão junto dos amigos, junto daqueles que são o nosso porto de abrigo?




Segunda-feira - esse dia chato



Quando era pequena não entendia o porquê das pessoas tanto reclamarem das segundas-feiras. Todas as vezes que ouvia expressões como “é segunda-feira, não ligues”, “podíamos passar de segunda para terça-feira”, e outras que tais, pensava, “não entendo, a embirração contra este dia, que para muitos é o primeiro da semana, mas que, na verdade, é o segundo”.

Hoje, já começo a entender essas frases que, tantas vezes, me intrigaram,  me levaram a pensar e a tentar perceber o mal que a desgraçada da segunda-feira teria feito à maioria da população.

As segundas-feiras são mesmo chatas, mesmo não falando, não tendo sentimentos, elas conseguem mexer connosco.

Parece sina…À segunda-feira sinto-me mais sensível, o tudo e o nada afectam-me, deixam-me triste, nostálgica...

Uma palavra fora do contexto, um pequeno desentendimento, uma coisa qualquer, são tudo motivos para desabar, para me sentir mal-disposta.

Hoje sinto-me assim, sensível, pensativa, desiludida, sem motivos aparentes para tal, ou melhor, sem nenhum motivo que venha acrescentar algo ao que tem sido até agora, mas hoje, segunda-feira, sinto-me “coiso” (como dira o outro).

O nosso cérebro é de facto incrível e não nos facilita, nem um bocadinho, a vida. Ele é que decide no que pensamos, como agimos, quando choramos, quando rimos. Como é possível, o nosso cérebro mandar num todo que é bem maior que ele?

Na verdade, se analisarmos bem, e não precisamos de grande concentração, percebemos que as segundas-feiras afinal não tem culpa nenhuma do nosso estado de espírito, o problema é que o nosso querido cérebro, selectivo e inteligente que é, aproveita o fim-de-semana para esquecer o que não importa e concentrar-se apenas no bom, no que nos faz bem e depois, quando a realidade regressa, a cada segunda-feira, altera o nosso sistema nervoso.

Apesar do sol brilhar, do céu estar azul, o que é certo é que é segunda-feira…. e se é segunda-feira é dia de estarmos trombudos, mal-dispostos e sensíveis q.b. ao tudo e ao nada!!!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Uma lufada de ar fresco



Uma lufada de ar fresco para nos levantar o ego, para nos dar ânimo, o ânimo que precisamos para encarar a realidade com mais vontade, com mais alegria, com mais e mais…

Há dias em que isso é preciso e há dias em que a magia acontece….

Há dias em que precisamos de encontros que nos dêem força, vontade de continuar a viver e a lutar… e o encontro acontece com pessoas que nos fazem bem, com quem a conversa flui como as cerejas, sem nos darmos conta, encontros onde se fala de tudo e de nada, onde se ri por tudo e por nada, sem receio do que, quem está na mesa ao lado, possa pensar. Enfim, fazer daquilo que muitos - os infelizes - pensam que não se adequa, um momento de descontracção, um retemperar de forças!!!!

Hoje tive esse encontro… Um encontro com alguém especial, com uma amiga que fiz há um par de anos, mas que sei que é para a vida!

À mesma mesa eramos três, três amigas que gostam de conversar, partilhar, rir e acima de tudo pensar bem (coisa que hoje é muito raro acontecer).

Na vida, acho que, muitas vezes, o que falta é isto mesmo, é a capacidade das pessoas deixarem os problemas à porta de um qualquer restaurante e abrirem-se à descontracção, àquilo que realmente nos faz bem!

O problema de muitos é que vivem fechados no seu mundinho e não são capazes de se dar, de descontrair, de partilhar e, acima de tudo, de viver.

Viver é isto, é dar-se, é ver nos olhos dos outros um brilho especial, como que a dizer, sem ter de falar, “estou a gostar muito de estar aqui” (hoje vi isso nos olhos dela, dessa a quem me refiro).

Viver é mostrar aos outros que gostamos, que estamos, que queremos estar mais e mais e que, mesmo que o sol deixe de brilhar, as estrelas se escondam atrás das nuvens e a lua não seja cheia, queremos estar lá, sempre.

A amizade é isto, é mostrar ao outro o que somos, o que queremos, o que ele significa para nós. A amizade é darmo-nos, sem esperar nada em troca.
A amizade não é fingir que se é, apenas e só para constar, amizade é ser, é estar, é ter, é esperar, é alcançar… é o tudo e o nada.

Felizmente tenho bons amigos, os suficientes, para dizer: Vale a pena estar, vale a pena esperar, vale a pena tudo!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

"Eu fiz parte"


Como há dias e pessoas que marcam a história e a vida da gente, também há locais que nos marcam para sempre….

No sábado, tive ainda mais essa certeza, ao entrar numa praça onde, em tempos, fui muito feliz!

Fizesse chuva, fizesse sol, lá estava eu e a colega que se tornou amiga, numa qualquer esplanada da Oliveira, em pleno centro histórico de Guimarães, onde o cinzento das pedras que cobrem as casas dão o mote para uma bela tarde de conversa (aquelas conversas onde se diz tudo e não se diz nada), onde o sol brilha, mesmo que esteja encoberto pelas nuvens…

A magia da praça - onde se cruza cultura, religião e animação, onde o museu Alberto Sampaio se encosta à igreja de Nossa Senhora da Oliveira, e a igreja nunca perde de vista os bares e as esplanadas que ficam ali mesmo em frente, apenas separados pelo Padrão do Salado e pela praça de calçada portuguesa com a árvore que lhe dá nome no meio - deixa apaixonado quem por ali passa.

Já vi a praça deserta, já vi a praça cheia de gente, já vi a praça em dia de chuva e em dia de sol tórrido… Mas no sábado, vi uma praça repleta de pessoas de todas as raças, de todos as cores, de todas as nacionalidades – gente que ali se deslocou para respirar cultura, num concelho, numa cidade que é berço da nação, mas que é muitas vezes esquecida!

“Tu fazes parte”, é o lema para esta Capital Europeia da Cultura e eu quero fazer parte… Já faço parte da cidade onde nasci, de onde sou natural no BI e que adoptei como uma das minhas cidades quando o destino profissional me levou a conhecê-la mais e melhor há uns anos.

Lá, aprendi o que os bancos da escola não foram capazes de o fazer, lá fiz amigos (amigos daqueles para a vida, daqueles que jamais esqueço), lá conheci pessoas que guardo bem cá dentro, onde poucos têm a sorte de estar.

Desde pequena que ouvia dizer que em Guimarães tinha nascido Portugal e, talvez por isso, nunca tenha dado muita importância ao facto, até que, um dia, fui lá parar e tive oportunidade de descobrir um bocadinho da cidade que deu origem ao país que somos.

Depois de me embrenhar no meio, de conhecer o sr Joaquim, o único oleiro da cidade, as tasquinhas, o alfaiate ali do centro histórico, um dos poucos que ainda usava a tesoura e a máquina de costura para dar forma a um qualquer tecido, as festas Nicolinas, a euforia dos adeptos do Vitória (com um fervor como não há em mais lado nenhum), comecei a perceber a magia de uma terra onde tudo tem história e apaixonei-me por uma cidade que tem o castelo como emblema.

É verdade, vou muitas vezes à cidade berço, mas no sábado foi diferente…

O ambiente era diferente, a azáfama era grande ali no Toural, para que nada faltasse nesse espectáculo dos Furia dels Baus, um espectáculo que marcava o arranque de um ano cheio de cultura na cidade.

Ao final do dia, a praça, agora despida de árvores, enchia-se de gente, gente expectante de saber o que a CEC tinha para dar, para apresentar.

À hora marcada, quando os ponteiros da igreja de S. Pedro marcavam 22H00, na praça, repleta de curiosos e jornalistas de todo o mundo, o espectáculo começou com o D. Afonso Henriques a ser o grande protagonista e a descer como que vindo dos céus a percorrer a praça de um lado ao outro, preso por um cabo, que certamente, lá no seu tempo, não existia!

A partir daí foi um cruzar de passado, presente e futuro…Um espectáculo que agarrou aqueles que ali se deslocaram até ao fim, para depois poderem dizer “eu fiz parte”.

Eu fui um desses. E posso dizer que foi com orgulho que “fiz parte”!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Onde quer que estejas olha para nós e por nós





Hoje lembrei-me de ti e só depois me dei conta que era dia 19 de Janeiro, o dia, em que se estivesses aqui, onde o mundo dá voltas e voltas e onde cada um tenta a todo o custo ser melhor que o outro, farias 33 anos.
Hoje lembrei-me de ti, como me lembro tantas vezes…

Lembrei-me de uma menina que nunca deixou de o ser porque a vida cedo decidiu pregar-lhe uma partida e retirá-la daqui para um lugar (eu sei) muito melhor, onde estará certamente a rir-se das barbaridades que nós, na terra dos vivos, fazemos.

A vida é uma passagem e a tua foi muito curta….Já lá vão meia dúzia de anos e, todas as vezes, que penso na crueldade com que tudo aconteceu, apetece-me perguntar “porquê?”, mas também sei que tudo tem uma razão e certamente, se foste tão cedo, a razão é simples: merecias mais do que aquilo que tinhas cá no mundo terreno e foste para o paraíso, onde acredito, tudo é bem melhor.

Foste para lá, para ajudar quem cá ficou…. Nas muitas vezes que sonhei contigo, foram sempre sonhos reais, sonhos bons, em que me dizias “estou bem e feliz”. Por isso, acredito que estejas mesmo, mesmo bem, a olhar para nós e por nós.

Pensar em ti, é pensar numa menina tímida, envergonhada, mas muito responsável e sempre com um conselho amigo a dar a quem precisasse dele.

A inteligência, escondida atrás da insegurança dos olhos verdes, era uma das características principais da menina que a morte quis levar aos vinte e poucos anos….

A menina tímida e insegura transformava-se em mulher todas as vezes em que saíamos à noite para dançar, beber uns copos (no caso dela de água) e divertir-nos muito.

Como me lembro das nossas conversas a caminho de casa quando íamos a pé, naquele caminho em que, se as pedras falassem, muitos se ririam de nós, ao ouvir as coisas que dizíamos, mas que, na altura, eram o nosso mundo e nos faziam felizes.

A menina que concretizou o sonho de ser advogada, mal conseguiu conhecer o gosto da profissão que sempre quis ter.

A doença, aquela maldita doença que dificilmente dá uma segunda oportunidade, foi cruel e levou-a num ápice, deixando todos perplexos e revoltados.

Mas neste dia que era o teu – o dia do teu aniversário – quero recordar-me apenas das coisas boas que vivemos!

Neste dia, que é o teu, quero dizer-te que foste importante para mim! Onde quer que estejas, Ticiana Cibrão, continua a sorrir e a dar-nos a mão sempre!!!!



quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

“O meu mundo”


O Mundo, o meu mundo….

Todos nós temos um mundo, um mundo que criamos na nossa cabeça e que, muitas vezes, nos faz sonhar e viver na ânsia, de um dia, chegarmos lá, onde nos leva o sonho.

Já lá vão alguns anos, em que fiquei conhecida como “o mundo” no meio académico, entre amigas que hoje fizeram questão de me lembrar de uma alcunha que tem história e que nunca mais foi esquecida, pelo menos, entre as pessoas que a viveram.

Esta manhã ri e fiquei com saudades desse tempo, um tempo em que o "meu mundo" era as festas académicas, as noites, os “conbibios” com os amigos e vá, durante o dia, as aulas em busca de um Nietzsche que, de tantas qualidades que tinha, se transformou, na minha cabeça ,num “mundo”!

Tudo aconteceu, logo no primeiro ano do curso de Jornalismo, naquela casa que era uma escola – a Escola Superior de Jornalismo, ali na Avenida da Boavista, no Porto - numa qualquer aula de filosofia, numa sala, estranhamente, cheia de alunos, em que professor com o olhar no infinito - como lhe era apanágio - falava das qualidades do filólogo e filósofo alemão do século XIX.

Eis senão quando, no silêncio daquele espaço, cheio de alunos, mas já cada um no seu mundo, bem longe, certamente, da sala - uma sala que, em tempos, tinha sido um espaço de lazer, da bonita casa senhorial em plena avenida - se ouve uma voz que vinha lá do outro mundo, um mundo perdido em pensamentos que teimavam em ser perturbados pela baixa voz do professor de barba e com olhar distante, a dizer: “É o Nietzsche é um mundo”, ao que o professor prontamente respondeu: “É isso mesmo, é um mundo”.

A partir desse dia, em que o “meu mundo” me atraiçoou e me fez soltar aquela frase num tom alto o suficiente para que o professor ouvisse, que fiquei conhecida como “o mundo”, uma alcunha que ainda hoje as outras personagens da cena, passada naquela sala que era de aulas, mas que, em tempos, tinha sido de baile, fazem questão de lembrar.

E de facto, posso ser “um mundo”, um mundo onde elas (essas que viveram o momento) e todos os meus amigos têm lugar, um lugar cativo, em que lhes tento dar o melhor que o meu “mundo” tem…

No “meu mundo”, não há lugar a confusões, nem a tristezas, embora elas, às vezes (mais do que as que eu queria), tentem entrar, mas que, com esforço e com a ajuda dessas pessoas que fazem parte desse “meu mundo”, consigo afastá-las.

O “meu mundo” leva-me muitas vezes para longe, para bem longe e faz-me sonhar…Faz-me sonhar em como seria se eu tivesse vivido noutra época, se eu tivesse escolhido outro caminho, e outras coisas que tais, mas o “meu mundo” também me acorda e me diz “a tua realidade é esta e é nela que tens de acreditar para conseguires ser feliz”.

É nesses momentos, em que o “meu mundo” me abana e me diz “Wake up” que eu ganho fôlego para regressar ao mundo real com a força que é necessária para superar e afastar as adversidades e as pedras que se me apresentam pelo caminho!





domingo, 15 de janeiro de 2012

A felicidade é um bem que se multiplica ao ser dividido





“A felicidade é um bem que se multiplica ao ser dividido” – foi este o ponto de partida para mais um capítulo do filme em que fui figurante, ontem, juntamente com mais de uma centena de outros personagens.
A felicidade é de facto um bem que se multiplica ao ser dividido e, ontem, tive, mais uma vez, oportunidade de confirmar a veracidade destas palavras que, soltas pouco podem querer dizer, mas juntas formam uma frase com todo o sentido para quem acompanhou o percurso de quem as disse e de quem as escolheu.
A vida é feita de gestos, gestos que nos marcam para sempre.
Ontem, tive oportunidade de participar no episódio mais importante desta série que tenho acompanhado com especial atenção – foi o episódio em que os protagonistas da história celebraram o amor diante de todos. Um episódio pensado ao pormenor, onde nada falhou e onde não foi preciso repetir nenhuma das cenas.
Desde a celebração religiosa, onde apenas o frio incomodava (onde os pés ficaram dormentes por causa do gelo que saía das pedras que cobriam o chão e enchiam as paredes), até à festa que se seguiu a este momento, tudo foi perfeito.
Um episódio de uma série onde o tema principal é o amor, um amor que já conta com alguns anos, mas cujo auge foi ontem gravado nas câmaras de filmar e nos olhos de cada um dos figurantes que ali se encontrava.
Na celebração nada faltou: desde as flores que davam vida a uma igreja cinzenta, coberta de pedras húmidas, que reflectiam o frio que se fazia sentir cá fora, até às palavras, ao canto, aos sorrisos dos dois, tudo tão natural que fez da cena, uma cena real, uma realidade que era confirmada pelas caras de todos os personagens que ali se encontravam: enrugadas de frio, um frio difícil de suportar, que se entranhava pelos ossos dentro, mas um frio que era suportado porque, na cena deste episódio, nada podia falhar!
Depois, vieram o resto das cenas deste episódio – se calhar um dos maiores da série - as cenas do “convívio”. Este foi também, e mais uma vez, uma caixinha de surpresas, onde tudo foi pensado ao ínfimo detalhe pelos protagonistas!
À entrada para espaço onde o resto da cena se ia passar, ouviu-se nas nossas cabeças: CLAQUETE - e a festa começou.

A cada momento da tarde e noite, as surpresas foram surgindo, todas elas bem estudadas e que deixavam os outros personagens surpreendidos com tudo. No entanto, como em qualquer outra série, ou mesmo telenovela, o suspense faz parte e, portanto, não posso revelar tudo o que lá se passou, correndo o risco de que se perca o interesse.
Mas e levantando a ponta do véu, como se diz na gíria teatral, houve surpresas para todos os gostos… a música, o fogo… e muito, muito mais.
Os protagonistas apresentaram várias surpresas, desde animação musical, onde nem o violino faltou, até ao fogo de artificio - tudo foi estudado para que na hora tudo fosse gravado à primeira.
Entre gargalhadas, dança e animação, houve também lugar a lágrimas, mas de felicidade!
Os protagonistas, quiseram fazer de todos que ali se encontravam não apenas figurantes, mas também personagens activas de um episódio onde eles eram, sem dúvida, os grandes anfitriões.
A minha personagem foi uma das surpreendidas… Não tinha ensaiado a cena e, como tal, não correu lá muito bem! Na história, durante a semana, a minha personagem tinha-os presenteado com algo que não queria que mais ninguém visse ou ouvisse, porque a sua timidez e insegurança, não o permitiam.
Mas os protagonistas mostraram-na a todos, e, como não foi um quadro ensaiado, houve lugar para algumas lágrimas, lágrimas essas de felicidade (sem bem que, pensando bem, em qualquer novela, filme ou série, as lágrimas também fazem parte).
Resumindo, este capítulo da série em que se celebra o amor ficou perfeito!
Os protagonistas estão de parabéns! Sempre alegres, bem dispostos, sempre com um sorriso nos lábios.
Às personagens principais desta bela história, que começou há alguns anos, mas que é ainda uma criança, o que desejo é tudo de bom!!
Que quando formos todos velhinhos, riamos como ontem, como anteontem, como no mês passado, como há um ano….como no dia em que nos conhecemos!
Que cada lágrima que soltemos, seja como aquelas que soltamos ontem – lágrimas de amizade e de felicidade!!!!!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

As aventuras nas viagens a Trás-os-Montes






Ouvi no rádio uma música que me levou à minha infância, aos passeios com os meus pais e a minha irmã, rumo a Trás-os-Montes.
Aqueles passeios que nos levavam a Vila Flor, onde vivem uns familiares, passeios que se tornavam intermináveis, pela viagem. Aquelas curvas do Marão (no inicio sem IP4), a EN 15 que era feita de curvas, contra-curvas e socalcos, em tudo muito semelhantes, aos socalcos das vinhas do Douro, tal era o estado de degradação.
Lembro-me das birras para parar porque o cansaço de ir sentada no “Super 5 grená”, (como me lembrou e bem a minha irmã) era muito; dos enjoos provocados por aqueles caminhos que ficavam de facto atrás dos montes; do meu pai, que nos prometia 100 escudos (sim escudos), se nós não adormecêssemos até chegarmos à Porca de Murça (a famosa porca que continua no mesmo local, velhinha, com a pedra desgastada, mas um ícone, muitas vezes recordada pela família Gomes).
Lembro-me do entusiasmo que era preparar tudo para ir de fim-de-semana a casa dos “tios”, uma casa que ficava, na nossa cabeça, muito longe, em Trás-os-Montes…
Lembro-me da nossa chegada à aldeia de Benlhevai, no concelho de Vila Flor (mas que para nós era Mirandela), onde tudo ficava a olhar para o Super 5, dos pouco carros que circulavam nas ruas estreitas, onde durante semanas e semanas apenas passavam cabras e, no limite, os burros, em direcção aos prédios (prédios, por terras transmontanas, são os campos de cultivo – o tempo que levei a perceber isso); lembro-me do único café da aldeia, onde os modelos eram do melhor (uns com cabelo à George Michael, outros sem dentes, mas a acharem-se os garanhões do sitio).
Lembro-me do frio, da geada, das brincadeiras nos montes ali perto, da ia à procura de cogumelos – sim dos bons – que depois comíamos ao final da tarde de sábado, em frente à lareira …
Lembro-me das brincadeiras à noite já na cama, com “as primas” a dizer às meninas - que pensavam elas - vinham da cidade, que estavam a ouvir os uivos dos lobos (e nós claro, acreditávamos).
Lembro-me da alvorada e do pequeno-almoço…
Nós habituados a comer o nosso pãozinho com manteiga, acompanhado de um copo de leite e o que nos apresentavam eles, o que era?
Salpicão, presunto, vinho, enfim um verdadeiro manjar que só o cheiro enjoava, mas, que eles davam como o melhor que tinham para acolher a família que vinha do litoral.
No resto da manhã, enquanto os pais se entretinham nas compras das castanhas, do azeite, dos enchidos, e tantas outras iguarias da gastronomia transmontana, nós regressávamos ao monte para mais umas aventuras, divertíamo-nos com o burro que os primos traziam ao fim-de-semana do prédio, enfim, aventuras sem fim!
À tarde, era ver a despedida…
Era ver o Super 5 - aquela máquina grená - com os pneus em baixo, sem caber mais nadinha, os tios e os primos a acenar até deixarem de nos ver, ao final da rua, num adeus até ao ano que vem, onde tudo se voltava a repetir.
Foram anos e anos onde sempre pela mesma altura, no inverno, a família se juntava e lá ia a Trás-os-Montes.

Ah e a musica que me levou ao desfiar destas recordações foi a do Frei Hermano da Câmara “O rapaz da camisola verde”, uma das malhas que bombava daqui até lá e no sentido inverso….

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Diz "Gosto-te" sempre que te apetecer




Quem me conhece, sabe que uma das coisas que mais gosto de fazer é escrever…
Escrever o que me dá na real gana, escrever o que sinto, o que penso, o que, muitas vezes, gostava de dizer de viva voz, mas não tenho coragem.
Encontro nas letras, o escapa que necessito para extravasar os meus sentimentos. Mas também as uso, muitas vezes, para mostrar o quanto gosto de quem está ao meu lado.
Pode haver quem não entenda o porquê de escrever em vez de falar, mas isso não me preocupa, sou assim. Consigo expor melhor as minhas ideias nas letras que se cruzam e dão lugar palavras – palavras que mostram sentimentos, sentimentos sempre completados com o meu olhar que é o espelho do que estou a sentir e a viver.
Adoro surpreender quem está perto, com palavras escritas num qualquer papel em branco, palavras que, aos olhos de muitos, poderão não passar disso mesmo, de palavras soltas, mas que, para mim e para quem se dirigem, têm todo o sentido!

Hoje fiquei feliz… Tenho de partilhar.
Fiz uma surpresa a dois amigos que gosto muito e aquilo que pensei que não iria suscitar nada em especial (embora tudo fosse dito com o coração), suscitou e eles ficaram contentes. Só queria que soubessem, a poucos dias, do seu grande dia, que são importantes para mim, que são importantes na minha vida!
Se gostamos, devemos dizer, nunca devemos deixar para amanhã aquilo que podemos fazer hoje!
Diz-me a experiência da vida, e não é muita, que perdemos demasiado tempo a pensar se devemos dizer o que sentimos ou não, e, com isso, perdemos anos e momentos de felicidade!
Sempre que te apeteça dizer “Gosto-te” – diz sem medo, sem receio do que os outros poderão pensar! Diz e pronto, é o que sentes, é o que te apetece!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Crianças de hoje e de ontem

Hoje, depois de fazer um zapping pelos canais generalistas de televisão portugueses, parei num, onde se debatia o facto de uma criança de Vila do Conde ter sido assaltada, quando se encontrava sozinha em casa, e sobre se pode ser considerada ou não negligência os pais o terem deixado só, enquanto foram trabalhar. Foi então que me pus a pensar e me dei conta que os tempos mudaram mesmo.

No meu tempo, e não foi assim há tantos anos, as crianças ficavam em casa enquanto os pais iam trabalhar, no limite iam ter a casa dos avós quando acordavam. Iam para a escola sozinhas, regressavam sozinhas e brincavam na rua com os outros coleguinhas. Chegavam a casa arranhados, suados, mas não havia dramas - eram felizes. E hoje, como é hoje?
Hoje não há crianças a ir sozinhas para a escola e a pé muito menos (se isso acontecesse, seria um escanda-lo – pelo menos lá na “aldeia” onde vivo).
Basta perdermos um bocadinho do nosso tempo, de manhã ou à hora de almoço, e colocarmo-nos estrategicamente em frente ao centro escolar que deu lugar à escola primária onde andei – sim, era assim que se chamava no meu tempo. Às primeiras horas da manhã ou da tarde, a estrada que é calma, em termos de tráfego, durante o dia, transforma-se e dá lugar a filas de trânsito que levam, quem precisa de passar para ir trabalhar, a um ataque de nervo.

É ver os papás a deixar os filhos à porta (e só não entram com o carro na escola porque não é permitido), é ver o acenar da mão numa despedida que parece ser por uma semana ou mais. Enfim….

Eu entendo que os tempos mudaram, os perigos são outros, as ofertas e o nível de vida também são diferentes. Mas pergunto eu: e o que se perde? Quem não se lembra no caminho que nos levava à escola, das brincadeiras, dos puxões de cabelos (quando nos zangávamos), das amizades que se fizeram (algumas para a vida)?
E hoje, será que isso acontece? Não me parece, tendo em conta que os mais pequenos só têm tempo para conviver, brincar, bater, no recreio da escola e sempre controlados pelas empregadas que não podem deixar que se magoem, que se arranhem, ou que partam a cabeça, sob pena de perderem o emprego, caso os encarregados de educação decidam denunciar.

No meu tempo, eramos livres, uma liberdade controlada, mas onde eramos felizes, onde conhecíamos os vizinhos, onde dizíamos “bom dia” e “boa tarde” sem medo e com vontade de desejar isso mesmo. E hoje, quem “salva”, como dizem os antigos?
Que sociedade estamos a formar?
Uma sociedade sem valores, onde uma criança é vigiada de manhã à noite (tipo Big Brother), onde não pode cair, não pode brincar com a terra (por causa das alergias), onde nem sequer pode dizer “bom dia” ou “boa tarde” porque pode ser perigoso.
Mas e quê, no meu tempo, não havia alergias? Não havia dor ao cair, não havia pessoas mais ou menos perigosas?
Sim, concordo que, cada vez mais, o mundo que nos rodeia é perigoso, cheio de armadilhas, mas também não podemos ser, como se dizia no meu tempo, “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”.
Sejamos razoáveis e voltemos a deixar as crianças enlamear-se, brincar com a terra, com as flores, com os animais (com estes não brinquei muito, porque sou medricas). Deixemos que os mais pequenos saibam que os frangos têm penas, bico e patas e não são aquele bicho estranho que vemos na bancada do talho.
Deixemos que as crianças caiam, se magoem, aprendam o que é certo e errado – só assim conseguirão crescer e lutar por um mundo e uma sociedade melhor.

Deixemos que sejam felizes e livres como nós fomos!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

As “cenas” da vida



Na vida nada acontece por acaso…
A vida é feita, como diria uma amiga, de “cenas”. “Cenas” que podiam dar um óptimo guião para uma qualquer telenovela da TVI ou mesmo da Globo.
Se cada um de nós fizer um exercício de retrospectiva, percebe que há episódios na vida que parece impossível que tenham acontecido, mas, o que é certo, é que aconteceram.
Há “cenas”, como diria a minha amiga, que nos deixam a pensar em “como foi possível?”.
Na minha vida, já aconteceram muitas “cenas”, umas boas, outras assim a assim e algumas (poucas) más...Então no ano que agora terminou, valha-me o altíssimo! Foi um corridinho de “cenas” sem explicação, de “cenas” que me deixaram com o coração tão pequenino como um grão de arroz…. “Cenas” que me doeram muito, mas que, confesso, me fizeram crescer mais e mais (não, não foi crescer para os lado, nem em altura).
Houve dias em que pensei: “Porquê a mim, porquê eu, que mal terei feito?” – Aliás ainda hoje, de quando em vez, dou por mim a fazer as mesmas questões e a não encontrar respostas. Mas logo entendo que as respostas – essas - vou encontrá-las mais à frente – diz-me a experiência que assim acontece sempre!
Um ano cheio de “cenas” com amigos, “cenas” com a família, “cenas” no trabalho, “cenas” para todos os gostos e feitios.
Muitas vezes quando pensamos que tudo corre bem, de repente, tudo cai por terra, ficamos sem chão… Ficamos à beira do abismo, num precipício, mas quando estamos quase, quase a cair, alguém agarra a nossa mão e nos segura.
São estas “cenas” que nos dão vontade de caminhar, de seguir em frente, de sermos positivos, quando o pessimismo e o desânimo nos consomem como se não houvesse amanhã!
Este ano, faço uma promessa a mim mesma: não vou deixar que “cenas” más interfiram na minha vida!
De resto, este é o conselho que deixo - vamos deixar-nos levar por “cenas” fixes, por “cenas” positivas que nos façam rir e sentir bem!!!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012 - O que nos espera?



Nos últimos tempos, a expectativa, em relação a este ano que agora começa, tem sido muita. Muito se tem falado de como vai ser, do que vai acontecer, das dificuldades, dos problemas económicos, da conjuntura, em suma, da crise.
Todos dão palpites sobre o euro, o seu futuro, a sua continuidade, o seu valor, a sua legitimidade… E de repente, nos últimos meses, de uma forma generalizada, todos os portugueses se tornaram economistas, contabilistas e até mesmo videntes.
A pergunta é: se todos sabiam o que ia acontecer e se tinham a fórmula mágica para quebrar este ciclo porque é que só agora vêm apresentar as suas ideias, a sua varinha de condão? Porque não o fizeram antes?

É uma delícia entrar num qualquer café ou pastelaria de um qualquer ponto do país e ouvir na mesa ao lado, coisas como, “era fácil acabar com a crise, era apenas preciso...” (e lá se ouve uma teoria que só dá vontade de rir). Mas, se nesta mesa dá vontade de rir, se nos colocarmos atentos à outra mesa e à outra e à outra, onde os que mais criticam, continuam refastelados a tomar o seu pequeno-almoço (apesar do aumento da taxa do IVA, e consequente aumento dos preços), ouvimos as mais rocambolescas e rebuscadas explicações para a crise e a explicação de como pode ser resolvida (algumas das hipóteses, de um requinte, que se o próprio Vítor Gaspar as ouvisse, não hesitaria em aplicá-las de imediato).

Mas, desengane-se quem pensa que é só à mesa do café que ouvimos pérolas sobre a crise e a sua resolução. Basta ligar um qualquer canal generalista de televisão, sintonizar uma qualquer rádio ou folhear um jornal para nos depararmos, todos os dias, com diferentes visões sobre a conjuntura económica adversa e com soluções para travar os problemas.

Adoro ouvir, por exemplo, quem esteve antes no governo a dizer: se lá estivéssemos seria assim, ou seria assado – e quê? Já não estiveram lá? Porque não o fizeram?
Adoro também ouvir os actuais membros do governo, depois de algumas promessas que fizeram na campanha para as eleições antecipadas de Junho, dizerem agora que não podem fazer isto ou aquilo porque a situação é grave e poderá vir a complicar-se ainda mais, sendo obrigados a implementar mais e mais medidas de austeridade.
Mas qual é a novidade? Eles não sabiam, antes de ir para lá, como estavam as coisas? Ora, façam-me o favor de, ao menos, estarem caladinhos e não atirar com areia para os olhos do “povo” – o “povo” que vos elegeu, na esperança de uma vida melhor, de um ano melhor, de soluções para uma crise que não é só nossa.

Neste novo ano que agora inicia, deixemo-nos de moralismos baratos e de soluções estapafúrdias para um problema que, infelizmente, não tem fim à vista.
Está na hora de arregaçar as mangas e rumar todos na mesma direcção – só assim conseguiremos sair do fundo do poço com dignidade e com o respeito que merecemos!