quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Crianças de hoje e de ontem

Hoje, depois de fazer um zapping pelos canais generalistas de televisão portugueses, parei num, onde se debatia o facto de uma criança de Vila do Conde ter sido assaltada, quando se encontrava sozinha em casa, e sobre se pode ser considerada ou não negligência os pais o terem deixado só, enquanto foram trabalhar. Foi então que me pus a pensar e me dei conta que os tempos mudaram mesmo.

No meu tempo, e não foi assim há tantos anos, as crianças ficavam em casa enquanto os pais iam trabalhar, no limite iam ter a casa dos avós quando acordavam. Iam para a escola sozinhas, regressavam sozinhas e brincavam na rua com os outros coleguinhas. Chegavam a casa arranhados, suados, mas não havia dramas - eram felizes. E hoje, como é hoje?
Hoje não há crianças a ir sozinhas para a escola e a pé muito menos (se isso acontecesse, seria um escanda-lo – pelo menos lá na “aldeia” onde vivo).
Basta perdermos um bocadinho do nosso tempo, de manhã ou à hora de almoço, e colocarmo-nos estrategicamente em frente ao centro escolar que deu lugar à escola primária onde andei – sim, era assim que se chamava no meu tempo. Às primeiras horas da manhã ou da tarde, a estrada que é calma, em termos de tráfego, durante o dia, transforma-se e dá lugar a filas de trânsito que levam, quem precisa de passar para ir trabalhar, a um ataque de nervo.

É ver os papás a deixar os filhos à porta (e só não entram com o carro na escola porque não é permitido), é ver o acenar da mão numa despedida que parece ser por uma semana ou mais. Enfim….

Eu entendo que os tempos mudaram, os perigos são outros, as ofertas e o nível de vida também são diferentes. Mas pergunto eu: e o que se perde? Quem não se lembra no caminho que nos levava à escola, das brincadeiras, dos puxões de cabelos (quando nos zangávamos), das amizades que se fizeram (algumas para a vida)?
E hoje, será que isso acontece? Não me parece, tendo em conta que os mais pequenos só têm tempo para conviver, brincar, bater, no recreio da escola e sempre controlados pelas empregadas que não podem deixar que se magoem, que se arranhem, ou que partam a cabeça, sob pena de perderem o emprego, caso os encarregados de educação decidam denunciar.

No meu tempo, eramos livres, uma liberdade controlada, mas onde eramos felizes, onde conhecíamos os vizinhos, onde dizíamos “bom dia” e “boa tarde” sem medo e com vontade de desejar isso mesmo. E hoje, quem “salva”, como dizem os antigos?
Que sociedade estamos a formar?
Uma sociedade sem valores, onde uma criança é vigiada de manhã à noite (tipo Big Brother), onde não pode cair, não pode brincar com a terra (por causa das alergias), onde nem sequer pode dizer “bom dia” ou “boa tarde” porque pode ser perigoso.
Mas e quê, no meu tempo, não havia alergias? Não havia dor ao cair, não havia pessoas mais ou menos perigosas?
Sim, concordo que, cada vez mais, o mundo que nos rodeia é perigoso, cheio de armadilhas, mas também não podemos ser, como se dizia no meu tempo, “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”.
Sejamos razoáveis e voltemos a deixar as crianças enlamear-se, brincar com a terra, com as flores, com os animais (com estes não brinquei muito, porque sou medricas). Deixemos que os mais pequenos saibam que os frangos têm penas, bico e patas e não são aquele bicho estranho que vemos na bancada do talho.
Deixemos que as crianças caiam, se magoem, aprendam o que é certo e errado – só assim conseguirão crescer e lutar por um mundo e uma sociedade melhor.

Deixemos que sejam felizes e livres como nós fomos!

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