Deito-me e
acordo sempre com a sensação de que falta alguma coisa na minha vida. Mas o
quê? É a pergunta que me assola diariamente.
Todos os dias,
dou comigo a pensar em como era bom quando era criança e as preocupações não eram
mais do que saber o que fazer com esta ou com aquela boneca. Agora tudo é
diferente, vejo o mundo à minha volta a mudar, as pessoas cada vez mais frias,
a sociedade cada vez mais preocupada com o “ter” e não com o “ser”.
Confesso que me
faz confusão, olhar à minha volta e só ver interesses supérfluos. Às vezes, dou
comigo a pensar, ou mesmo a comentar, que devo ser eu que estou errada, que
devo ser eu que não me adapto aos tempos que correm. Mas se assim é, prefiro
mesmo estar errada, porque enquanto houver diferenças entre o “ser” e o “ter”,
eu hei de inclinar-me sempre para o “ser”: o ser eu própria, o ser amiga,
confidente, verdadeira, simples…O “ter”, esse vem por acréscimo, desde que
tenha o suficiente para viver, o suficiente para que o “ser” seja perfeito, é o
que importa.
Por estes dias,
sinto-me particularmente angustiada a olhar para este mundo que nos rodeia,
para esta sociedade de guerras e conflitos sem sentido. Mortes desnecessárias,
sofrimento de pessoas inocentes, verdadeiras chacinas, mas o que é isto? Será
que vale a pena?
Será que vale a
pena, “comermo-nos uns aos outros” só para “ter”?
Sim, é verdade
que guerra gera dinheiro, mas será que vale a pena sacrificar o ser humano, em
troca disso?
Basta olhar para
a abertura dos telejornais no dia de ontem, quase 300 mortos em avião abatido
na Ucrânia, centenas de pessoas mortas na Faixa de Gaza, mulher morta à
machadada pelo companheiro…. E por aí adiante….Enfim, dou por mim a pensar "está na hora de mudar de
canal".
Sim é a vontade
que dá, mas depois penso: pois, ao querer fugir a estas imagens e a esta informação,
não estarei a fugir também da realidade, a alhear-me do mundo. Será isto
correto? Não deveremos ser nós, os que estamos ainda razoavelmente bem, a fazer
alguma coisa? Mas o quê? Não sei, mas olhar com desdém e com frases feitas, como
“coitados, já é normal, sempre foi assim”, não me parece que seja a decisão mais
adequada.
Mas fazer o quê
neste mundo do “ter”?