terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Futilidades





Dou por mim a pensar no que valemos e no que vale a vida que nos foi dada à nascença - com data de validade que não conhecemos.  Dou por mim a questionar-me, cada vez mais, sobre a sociedade que temos, as pessoas e o que o mundo nos oferece. Começando pelo último.  O mundo oferece-nos tudo e mais alguma coisa. Tanta coisa que não sabemos para que serve e, muitas vezes, usamos mal. Usar, ora aí está outra palavra que diz muito sobre o mundo e principalmente sobre as pessoas. As pessoas, que pessoas se nos apresentam? Frias, calculistas, egoístas e, acima de tudo, más.  Pessoas que não olham a meios para atingir os fins. Sim, sempre houve desse género de pessoas, mas se antes se contavam pelos dedos das mãos de um ser humano, hoje não há mãos, nem dedos que as enumerem.
Ora, fará sentido uma sociedade assim? Terá lógica um mundo em que o Homem se comporta pior que os animais irracionais, que magoa só porque sim, que usa e abusa do outro para chegar onde não consegue sozinho?
Questiono-me sobre isso, sobre mim, sobre o outro, sobre nós que vivemos neste mundo sem conteúdo.
Nesta altura de Natal, aconselho a que paremos e pensemos se vale a pena esta atitude,  este comportamento que gera outro pior e outro e outro. Que o egoísmo, a maledicência,  a mediocridade de muitos seja o ponto de partida de todos para não se querer ser igual e fazer da vida, do mundo e da sociedade algo bom e onde consigamos ser felizes!! Porque “futilidades" não nos levam a lado nenhum.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Drave a aldeia encantada





O dia começou bem cedo numa viagem de duas horas que me levou até ao local já traçado – Drave, Arouca.  Olhando para a temperatura, ao início dia manhã,  o dia previa-se quente. E foi de facto,  mas nem isso nos demoveu da caminhada de cerca de sete quilómetro de terra batida, em sobe e desce como se da montanha russa se tratasse. Logo no início -confesso- pensei que não ia aguentar. A subida íngreme estava a tirar-me as forças,  mas lá dei a volta à cabeça e corda às sapatilhas e à hora estipulada lá estava eu e o meu grupo na pequenina aldeia de xisto onde ao longe se destacava a pequena capela branca. Capela onde daí a meia hora se iria celebrar uma eucaristia em honra da Senhora da Assunção porque apesar de já não viver ninguém na aldeia desde 2010, a tradição mantém-se.  As pessoas juntaram-se à volta da capela,  enquanto se esperava a chegada do padre que também teve de fazer um percurso de 1,5 km a pé – de carro ninguém lá chega. O padre chegou com um belo sorriso ao ver os fiéis e curiosos que ali se juntaram e deu início à celebração que contou com a participação de cerca de 50 pessoas.  Enquanto uns cumpriam a tradição e ouviam a história do povo da aldeia, que perdeu a última habitante em 2010 quando essa faleceu, ali perto ouvia-se os “chapos” na água de quem escolhe as belas cascatas para passar o dia. No final da eucarística houve ainda tempo para uma pequena procissão para, mais  uma vez, cumprir a tradição.
Pensei – valeu a pena o esforço, sem ainda ter visitado a beleza de uma aldeia perdida na serra. O almoço foi ali em cima de uma pedra à sombra, com a água fresca na pequena lagoa. Depois hora de explorar.
La fui eu à procura de uma casa de banho (difícil encontrar a não ser ao ar livre 😀) e foi nessa procura que subi as escadas de uma casa ao lado da pequena capela. Conversa vai, conversa vem, percebo, pelo discurso do senhor e juntando ao que tinha ouvido na homilia, que aquele que estava ali à minha frente era o filho da última habitante da aldeia. Claro, começaram as perguntas. Fiquei a saber que a porta daquela casa – que não tem casa de banho- é aberta todos os anos no dia 15 de agosto para manter a tradição.  É aquele homem e a família que preparam a eucaristia, enfeitam a igreja e os andores, preparam o altar improvisado e as leituras são feitas por eles. Bem, tinha motivo para mais umas horas de conversa, mas tinha de voltar para junto do grupo e seguir na descoberta de Drave. Grande parte das casas estão abandonadas, mas há aquelas que são abertas por quem ali nasceu e viveu na adolescência todos os anos no dia da festa. De dentro de uma loja ouvimos “querem um café?  É da panela”. Foi mais um momento indescritível : há quanto tempo não tinha aquela experiência? ! Bem recebidos, com uma paisagem de tela, chegou a hora de regressar. Se foi duro o regresso?! Foi principalmente por causa do calor intenso, mas se valeu a pena?! Sim, sem dúvida.
As paisagens, as experiências e a beleza da aldeia superam o cansaço! !