quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

As aventuras nas viagens a Trás-os-Montes






Ouvi no rádio uma música que me levou à minha infância, aos passeios com os meus pais e a minha irmã, rumo a Trás-os-Montes.
Aqueles passeios que nos levavam a Vila Flor, onde vivem uns familiares, passeios que se tornavam intermináveis, pela viagem. Aquelas curvas do Marão (no inicio sem IP4), a EN 15 que era feita de curvas, contra-curvas e socalcos, em tudo muito semelhantes, aos socalcos das vinhas do Douro, tal era o estado de degradação.
Lembro-me das birras para parar porque o cansaço de ir sentada no “Super 5 grená”, (como me lembrou e bem a minha irmã) era muito; dos enjoos provocados por aqueles caminhos que ficavam de facto atrás dos montes; do meu pai, que nos prometia 100 escudos (sim escudos), se nós não adormecêssemos até chegarmos à Porca de Murça (a famosa porca que continua no mesmo local, velhinha, com a pedra desgastada, mas um ícone, muitas vezes recordada pela família Gomes).
Lembro-me do entusiasmo que era preparar tudo para ir de fim-de-semana a casa dos “tios”, uma casa que ficava, na nossa cabeça, muito longe, em Trás-os-Montes…
Lembro-me da nossa chegada à aldeia de Benlhevai, no concelho de Vila Flor (mas que para nós era Mirandela), onde tudo ficava a olhar para o Super 5, dos pouco carros que circulavam nas ruas estreitas, onde durante semanas e semanas apenas passavam cabras e, no limite, os burros, em direcção aos prédios (prédios, por terras transmontanas, são os campos de cultivo – o tempo que levei a perceber isso); lembro-me do único café da aldeia, onde os modelos eram do melhor (uns com cabelo à George Michael, outros sem dentes, mas a acharem-se os garanhões do sitio).
Lembro-me do frio, da geada, das brincadeiras nos montes ali perto, da ia à procura de cogumelos – sim dos bons – que depois comíamos ao final da tarde de sábado, em frente à lareira …
Lembro-me das brincadeiras à noite já na cama, com “as primas” a dizer às meninas - que pensavam elas - vinham da cidade, que estavam a ouvir os uivos dos lobos (e nós claro, acreditávamos).
Lembro-me da alvorada e do pequeno-almoço…
Nós habituados a comer o nosso pãozinho com manteiga, acompanhado de um copo de leite e o que nos apresentavam eles, o que era?
Salpicão, presunto, vinho, enfim um verdadeiro manjar que só o cheiro enjoava, mas, que eles davam como o melhor que tinham para acolher a família que vinha do litoral.
No resto da manhã, enquanto os pais se entretinham nas compras das castanhas, do azeite, dos enchidos, e tantas outras iguarias da gastronomia transmontana, nós regressávamos ao monte para mais umas aventuras, divertíamo-nos com o burro que os primos traziam ao fim-de-semana do prédio, enfim, aventuras sem fim!
À tarde, era ver a despedida…
Era ver o Super 5 - aquela máquina grená - com os pneus em baixo, sem caber mais nadinha, os tios e os primos a acenar até deixarem de nos ver, ao final da rua, num adeus até ao ano que vem, onde tudo se voltava a repetir.
Foram anos e anos onde sempre pela mesma altura, no inverno, a família se juntava e lá ia a Trás-os-Montes.

Ah e a musica que me levou ao desfiar destas recordações foi a do Frei Hermano da Câmara “O rapaz da camisola verde”, uma das malhas que bombava daqui até lá e no sentido inverso….

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