Portas
de vidro com faixas verde florescente que identificam o local por onde muitos
portugueses têm de entrar…
À
entrada, o segurança pergunta, apenas por respeito (já que sabe claramente do
que se trata), para que é, mas já com o dedo no botão certo.
Depois
é sentar e esperar que o número que nos foi atribuído apareça no LCD colocado
estrategicamente em frente às cadeiras.
Lá
ao fundo, duas secretárias, com dois funcionários que atendem cada um que se
senta à sua frente. O discurso tão bem sabido, repetido dezenas de vezes a cada
dia que passa, é praticamente sempre o mesmo. Depois de colocarem todos os
dados no computador, há que falar nas “três obrigações que não pode esquecer
nunca e que tem cumprir”.
Eu
sentada na cadeia, à espera que o B 010 aparecesse no ecrã mesmo ali à minha
frente, coloquei os ouvidos à escuta para o poupar de repetir, mais uma vez, o
mesmo discurso e a mim me poupar de voltar a ouvir aquilo que tem de ser, mas
que não estou com vontade nem paciência para saber.
Meia
hora depois, o som do televisor avisa todos os que lá estão cansados de
esperar, apesar de cá fora pouco ou nada terem para fazer, que é hora do próximo
se sentar noutra cadeira - aquela ali perto do funcionário que voltará a
repetir o mesmo discurso, mais uma vez.
É agora a minha hora, o número B 010 aparece
finalmente, naquele ecrã preto, ali mesmo à minha frente.
Levanto-me
e depois de uns quantos passos apressados (embora não tivesse pressa, queria era
sair rápido daquela lugar), sento-me em frente ao funcionário que faz duas a três
questões, identifica o meu processo e na hora de me fazer o discurso de “há três
obrigações….” diz “Mas isso você já sabe”.
Parece
que leu o meu pensamento e eu agradeci, porque já tinha ouvido aquelas
palavras, já sabia de cor o que tenho de fazer daqui para a frente e que –
espero – tenha de fazer por pouco tempo.
Depois
de cinco minutos na tal cadeira, em frente ao senhor que tinha uma
particularidade (um problema de pele que me é familiar), levantei-me e ele, com
ar muito simpático (ainda era cedo, não estava cansado de dizer sempre o mesmo)
disse: “Boa sorte e vai vai ver que vai ser por pouco tempo. Já da outra vez assim foi”.
Agradeci
e com um sorriso nos lábios e uma dor intensa por dentro, saí por aquela porta
de vidro transparente, com a faixa verde florescente que indica que é ali que muitos
portugueses vão parar.
Agora
o caminho vai ser trilhado de forma a cumprir o que disse o senhor “pouco tempo”.
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