terça-feira, 6 de março de 2012

Portas de vidro com faixas verde florescente






Portas de vidro com faixas verde florescente que identificam o local por onde muitos portugueses têm de entrar…
À entrada, o segurança pergunta, apenas por respeito (já que sabe claramente do que se trata), para que é, mas já com o dedo no botão certo.
Depois é sentar e esperar que o número que nos foi atribuído apareça no LCD colocado estrategicamente em frente às cadeiras.
Lá ao fundo, duas secretárias, com dois funcionários que atendem cada um que se senta à sua frente. O discurso tão bem sabido, repetido dezenas de vezes a cada dia que passa, é praticamente sempre o mesmo. Depois de colocarem todos os dados no computador, há que falar nas “três obrigações que não pode esquecer nunca e que tem cumprir”.
Eu sentada na cadeia, à espera que o B 010 aparecesse no ecrã mesmo ali à minha frente, coloquei os ouvidos à escuta para o poupar de repetir, mais uma vez, o mesmo discurso e a mim me poupar de voltar a ouvir aquilo que tem de ser, mas que não estou com vontade nem paciência para saber.
Meia hora depois, o som do televisor avisa todos os que lá estão cansados de esperar, apesar de cá fora pouco ou nada terem para fazer, que é hora do próximo se sentar noutra cadeira - aquela ali perto do funcionário que voltará a repetir o mesmo discurso, mais uma vez.
 É agora a minha hora, o número B 010 aparece finalmente, naquele ecrã preto, ali mesmo à minha frente.
Levanto-me e depois de uns quantos passos apressados (embora não tivesse pressa, queria era sair rápido daquela lugar), sento-me em frente ao funcionário que faz duas a três questões, identifica o meu processo e na hora de me fazer o discurso de “há três obrigações….” diz “Mas isso você já sabe”.
Parece que leu o meu pensamento e eu agradeci, porque já tinha ouvido aquelas palavras, já sabia de cor o que tenho de fazer daqui para a frente e que – espero – tenha de fazer por pouco tempo.
Depois de cinco minutos na tal cadeira, em frente ao senhor que tinha uma particularidade (um problema de pele que me é familiar), levantei-me e ele, com ar muito simpático (ainda era cedo, não estava cansado de dizer sempre o mesmo) disse: “Boa sorte e vai vai ver que vai ser por pouco tempo. Já da outra vez assim foi”.
Agradeci e com um sorriso nos lábios e uma dor intensa por dentro, saí por aquela porta de vidro transparente, com a faixa verde florescente que indica que é ali que muitos portugueses vão parar.
Agora o caminho vai ser trilhado de forma a cumprir o que disse o senhor “pouco tempo”.

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