sexta-feira, 25 de maio de 2012

Páginas de jornal que ajudam a pensar





Folhear mais de uma centena de jornais num dia pode parecer enfadonho, mas não é. Enquanto folheamos cada página, com os olhos atentos a cada notícia, a cada artigo, para que nada do que queremos passe ao lado, temos tempo para pensar, rir e ainda ouvir uns quantos chatos dizer “shiu”.
Ali em pleno centro histórico de uma cidade que me fala ao coração por tudo e por nada, naquele edifício antigo, com o convento de Santa Clara, que dá agora vida à Camara Municipal, ao fundo da janela, começo, bem cedo, a olhar os jornais que têm mais de um ano, mas que, em muito, se cruzam com o que hoje é escrito nos mesmos periódicos, principalmente quando o tema é crise.
Há um ano, a poucos dias de eleições legislativas, para escolher o sucessor de Sócrates, só se falava em crise, recessão, na situação critica em que o país se encontrava, na ajuda financeira que viria para solucionar, ou melhor, ajudar a solucionar, o problema.
A palavra “troika” começava a soar na boca dos portugueses e a fazer correr tinta nos jornais diários, com páginas e páginas dedicadas ao tema. As promessas dos políticos de então eram de uma solução para o problema do país, com um pouco de austeridade, mas nada que prejudicasse cada um dos 10 milhões de portugueses. Com o passar dos meses, os mesmos jornais, continuam a falar do tema central do país: crise…
O governo muda, os ministros são outros, mas problema mantem-se e parece que cada vez mais difícil de resolver.
É ouvir, ler e ver as explicações do primeiro-ministro, juntamente com as do ministro das finanças, ambos a lamentarem o cenário que encontraram quando assumiram os destinos do país, a tentarem fazer ver às pessoas que seriam necessárias mais medidas de austeridade, mais e mais. Aliás, tenho cá para mim, que todas as vezes que o ministro que controla as nossas contas falava, formava-se um calafrio em cada português, já que, de certeza, vinham aí mais cortes, mais austeridade. Aliás, “austeridade”, é outra das palavras mais ouvidas e escritas no último ano. Sim, é uma palavra que consta do dicionário português, que sabíamos o que significava, caso não soubéssemos era só ir ao dicionário, mas na prática, se calhar, não fazíamos ideia do que era. Agora, já sabemos bem o que quer dizer e, cada vez, com mais certeza.
Hoje, ao folhear todos aqueles jornais, um ano depois da mudança, dei por mim a perguntar: o que mudou?
Podia dizer nada, mas claro que sim, claro que houve mudanças, entre elas, mais pobreza, mais crise, menos dinheiro na carteira dos portugueses, mais desemprego, mais emigração, mais stress, mais depressões, mais aumentos, mais e mais e mais…
É verdade, o sr. que nasceu no Reino Maravilhoso, como lhe chamou Miguel Torga, e de onde era natural o seu antecessor, prometeu, prometeu, prometeu (aliás como era sua obrigação, não fosse ele um político), mas também, como político que é, não cumpriu nada, apenas nos deu mais consumições (como diz o povo), mais despesas e menos dinheiro. Esse senhor que nos dá muito alento, que nos convida primeiro a emigrar e, como se isso, não bastasse, de seguida, nos diz que “estar desempregado é uma oportunidade”, nada fez.
Bem, ao ler as notícias que achava desactualizadas (já que têm um ano e algumas mais), percebi que pouco ou nada mudou e o que modificou foi, sem dúvida alguma, para pior.
Agora pergunto: valeu a pena mudar? Valeu a pena pedir ajuda? Vale a pena fazer sacrifícios? Vale a pena emigrar? Vale a pena estar desempregado?

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