quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Praxes sim ou não?



Acho que desde que terminei o curso - já lá vão uns bons anos - não ouvia falar tanto num tema que me trouxe dos melhores momentos académicos por que passei.
Não me venham com a história de que o que aconteceu no Meco é prática nas universidades portuguesas. Não é, nem pouco mais ou menos. Onde é que já se viu serem praxados no terceiro e quarto anos de curso? Alugarem uma casa para passar um fim de semana para serem praxados? Não se viu em lado nenhum, ou melhor, viu-se agora. Recuso-me a chamar ao que aconteceu “praxe”. Para mim, trata-se de um ritual que não é satânico, mas no qual o desfecho foi bem pior.
Ouvimos os adeptos das praxes a definirem-na como “integração dos novos alunos”. Eu sempre considerei isso. Lembro-me que grande parte dos amigos que fiz na faculdade, conheci-os no primeiro dia de praxe.
Concordo e sei que há universidades que abusam, que há praxes que não são toleráveis, mas aí estão as pessoas para dizerem se querem ou não sujeitar-se àquilo. Sei que a minha praxe foi muito boa e se calhar mais branda que noutras faculdades. Não nego que houve dias em que “me passei”, que houve outros em que me apeteceu desistir, mas no geral foi muito engraçado. Foi uma praxe de brincadeiras, de cânticos, de voltas à escola, que era um solar antigo, a dizer “ri-me, f****-me” (recordo que foi o que mais fiz, não conseguia parar de rir, mesmo que o “doutor” me mandasse calar, não rir, e não olhar para ele). Lembro-me de fazermos quintinhas, em que uns era porcos, outros galinhas, outros patos e por aí fora e depois cada grupo soava os sons desses animais. O que é que isso tem de mal? Lembro-me de vender jornais com trinta anos de atraso…lembro-me das “coxas da Maria Amélia”, do “Pai Abrão”, do grito do jornalismo, do leilão dos caloiros. Lembro-me de quando chegava o Dux e tínhamos de dizer aquela ladainha “reverendíssimo, digníssimo, e umas quantas coisas mais terminadas em “issimo” Dux” (dava-me vontade de rir). Lembro-me da decoração do carro para o cortejo da semana académica. Lembro-me dos doutores nos ensinarem a andar nos autocarros (sim quem ia de fora, não sabia que autocarro apanhar), do meu “batismo”, do meu padrinho, que ainda hoje apelido como tal. Lembro-me, com muita saudade e sempre com um sorriso no rosto, das coisas que dizíamos e fazíamos. Sempre com respeito de todos e para todos.
O que aconteceu no Meco, o que aconteceu há alguns anos em Famalicão, não pode ser considerado praxe. São rituais de pessoas que vivem intensamente as coisas, que não têm noção do que é a praxe, do que é que se pretende e como deve ser feita.
 Serem praxados com traje? Eu não me lembro de algum dia ter sido praxada, depois de vestir o fato e a capa preta.
Quando se fala em culpa neste caso do Meco, na minha humilde opinião, a culpa foi de todos. O rapaz que sobreviveu teve a infeliz sorte de não ter morrido. Sim, porque agora aos olhos da sociedade é o único culpado. No entanto, considero que todos eram crescidinhos, já se conheciam e sabiam bem o que iria ser feito. Se houve algum culpado, foram todos eles.
Se o rapaz está a ter uma atitude correta ao não falar? Não, não está, porque deve explicar o que todos querem saber, no entanto, seja o que for que ele diga, não o vai culpar, porque todos os que ali estavam eram maiores de idade e se foram para ali, foi porque quiseram.

Concluindo, Praxes sim ou não?
Sim.Não falemos da praxe como este infeliz acontecimento. Praxe é muito mais que isso, acreditem!!!!

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