Cap.I
O
sol brilhava, mas o vento frio gelava todo o corpo, apetecendo entrar num espaço aquecido pelo lume da lareira e sonhar. O sol era
brilhante, de uma luz tão ofuscante, que enganava quem o visse de dentro de casa,
tal como ele a enganou.
Ele
era um jovem, jovem na idade, mas com uma vida já muito intensa, já muito
sofrida, uma pessoa cautelosa, com medo, muito medo de tudo e de todos, alguém que
tinha perdido o conceito do amor e da amizade. A menina, essa que tinha uma
capacidade enorme de observação, lá se foi aproximando cautelosamente porque sabia
que, tal como o sol que brilhava lá fora não aquecia, essa pessoa podia brilhar
por fora, mas por dentro não era mais que a noite escura, doente e fria.
No
entanto, Camila (era esse o seu nome) sabia que podia fazer muito por António
(era como se chamava), podia reeduca-lo, mostrando-lhe novamente o conceito de
amizade, fazendo-o perceber que amizade, quando o é, não magoa, que ser amigo é
estar, é fazer, é dar, nunca será fazer sofrer. Ao mesmo tempo, mostrava também
que amar é possível, que nem sempre se sofre, que nem sempre se erra. Um dia, António,
o rapaz sofrido e desconfiado – uma desconfiança compreensível, aos olhos de
quem o conhecia – lá se foi dando, interessando, mas sempre com medo, sempre
demonstrando um certo afastamento, uma certa apatia, nomeadamente com Camila
que estava ali sempre a segurar-lhe a mão.
Camila
entendia, porque achava que essa reserva não era mais que o medo de voltar a
sofrer, o receio de que a traição voltasse a assolar-lhe a memória e os
pensamentos. No entanto, António era esperto, gostava de beber conhecimentos e informações
aqui e ali, mas lá ia fazendo a sua vidinha de sempre. Ela gostava dele, mas
apenas e só como amigo, ela sentia que era uma ajuda, ou pelo menos parecia ser
e, por isso, estava sempre lá. Ele ia estando, mas só quando precisava.
Como
inteligente que era, António lá foi percebendo que na vida as pessoas são diferentes,
que não podem ser todos metidos no mesmo pacote, que há amizade, que há amor e
que nós temos de lutar por isso.
Um
dia, atrás do outro, lá foi ganhando confiança, aprendendo e percebendo que sentir
amizade, sentir amor é bom. Mas houve uma coisa que ele não assimilou – que amizade
não é fazer sofrer, não é afastar-se quando se está bem, mas é estar sempre. António
não entendeu que a traição vai mais além do físico, que a traição é a ignorância,
é o fingir, o mentir, o fazer de conta e descartar quem lhe fez bem. Ele
infelizmente, não entendeu, mas a menina ficou de igual forma contente, porque,
no meio da ignorância dessa pessoa sofrida, percebeu que é capaz de ser feliz
sem pessoas que se dizem próximas e, na primeira oportunidade, saem de cena sem
nada dizerem.
Camila
apenas pensava que a vida é assim mesmo, que se conhecem pessoas, umas que ficam
para sempre, outras que entram do nada e saem da mesma forma.
A
menina segue a sua vida, com a mesma vontade de ajudar, com a mesma força observadora
e a perspicácia que a caraterizam e caminha rumo à felicidade verdadeira, a
felicidade que encontra num abraço, num carinho, numa palavra amiga, num amigo
(verdadeiro). Camila que sonhou ser feliz, conseguiu porque é sincera, simples,
verdadeira e está sempre disponível para ajudar, sem esperar nada em troca.
A
menina pode mudar a sua vida, mas jamais mudará a sua forma de viver, a sua
forma de atuar. Camila sabe o que quer e o que quer é ser feliz e fazer os
outros felizes.
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