Cap. VI
O dia nasceu cinzento, Camila e José
nem prestaram atenção, porque o tempo era pouco e estava quase na hora de sair
de casa para apanhar o avião rumo à cidade maravilhosa.
À hora marcada, lá estavam na sala
de embarque. Ao encontrarem-se, os olhos de ambos falaram, não foi preciso
sequer palavras – a felicidade era visível e o amor também, embora esse tema
nunca tenha sido abordado por qualquer um deles.
“Senhores apertem os cintos, o avião
vai descolar”.
Camila aperta o cinto, como mandara
a hospedeira e respira fundo. No seu pensamento “aí vamos nós para a aventura”.
Depois de dez horas de viagem,
passadas entre leituras vãs, conversas triviais e uns carinhos, o pássaro
voador aterra e a paisagem deslumbrante começa a entrar pelas janelas,
adivinhando-se muito calor e dias de muita adrenalina. Mais uma vez, os olhos
de ambos cruzam-se e o sorriso maroto foi notório.
Depois de mais uma hora de
desembarque, pegar nas malas, apanhar o táxi e chegar ao hotel, os dois,
contemplam, da varando, o Cristo Rei ali mesmo em frente, ou pão de açúcar e lá
vão planeando a sua estadia.
A adrenalina é tanta que ainda mal
conseguiram parar para pensar “e nós o que estamos aqui a fazer”, ou se calhar
não queriam sequer pensar.
As malas começam a ser desfeitas e é
nesse momento que o José quebra o silêncio. Ao ouvir a voz, Camila tremeu –
tinha chegado o momento.
- Estás contente? O que esperas
destes 15 dias comigo?
Ela ficou a pensar, sem saber muito
bem como e o que responder. Sabia bem o que esperava e o que queria que
acontecesse, mas dizer poderia não soar bem, já que viviam como casal, mas as
palavras “namoro” ou “amor”, nunca tinham sido ditas por nenhum deles.
Respirou fundo, levantou a cabeça e
respondeu determinada:
- Espero passar umas boas férias,
junto de uma boa companhia – e provocou – é suposto esperar mais ou menos que
isto?
Ele sorriu, percebendo bem onde
queria chegar… Mas não quebrou e respondeu baixinho.
- Isso agora….
Virou as costas e continuou
calmamente a retirar as roupas da mala, sem lhe dar qualquer importância.
Camila ficou enervada, porque sabia
que fazia de propósito para a deixar intrigada e, acima de tudo, chateada.
- Bem as minhas coisas estão
arrumadas. Vou tomar um banho, pegar num biquíni e vou até à praia, se não é
menos um dia que aproveito. E tu, que vais fazer – provoca ela.
Mais uma vez, ele, que ainda arruma
calmamente a mala, olha de canto de olho para ela, com o mesmo sorriso maroto e
diz:
-Se calhar, vou fazer o mesmo que tu
e já arrumei as malas…. Como vamos fazer com o banho, é que esperar um pelo
outro é mais tempo perdido e o sol vai embora. Sugeres alguma coisa? Tens
alguma ideia.
Mais uma vez, conseguiu colocá-la
numa situação embaraçosa, ela corou, mas, com firmeza na voz, tremendo por
dentro, respondeu:
-Eu não. Não estou a perceber.
Esperar um pelo outro?
José levanta-se da cama, onde estava
sentado a guardas as últimas peças de roupa, dirige-se a ela calmamente,
agarra-a pela cintura e diz:
- Não estás a perceber, então eu vou
explicar-te….
O saco da praia está pronto, o protetor
solar colocado em todas as partes do corpo, o chapéu, os óculos de sol. Estão
prontos para a primeira aventura em Copacabana.
Saem à rua, o calor tórrido começa a
sentir-se, mas a felicidade de ambos faz esquecer o calor.
Enquanto passeiam pelo famoso
calçadão, não se cansam de comentar tudo o que vêm e, entre um carinho e outro,
lá vão seguindo em frente, sem vontade de parar, na areia e aproveitar o calor
que se faz sentir.
Depois de mais de uma hora de
caminhada, decidem que é melhor parar e beber qualquer coisa.
Sentam-se na esplanada em frente ao
mar, contemplando o oceano atlântico de um azul lindo, e pedem uma água de
côco. Lá vão desfiando conversa e gargalhadas, espelhando uma felicidade que
nem eles conseguiam entender muito bem.
À memória de Camila vinham, de
quando em vez, pensamentos de como será depois, do que irá acontecer, mas logo,
os eliminava e pensava “agora é viver o momento e ser feliz”.
O José esse estava de tal forma
maravilhado com o que via à sua frente que o que tinha deixado antes um dia,
nem pela cabeça lhe passava.
- Bem, está na hora de voltarmos ao
hotel e descansar que o dia foi longo? – disse Camila.
- Descansar? Nós não viemos para
descansar….
Camila volta a corar, depois daquele
inicio de tarde. “A provocar-me outra vez?”. Respirou fundo e respondeu com voz
firme e em tom elevado.
- O descanso faz parte, se não o
fizermos não conseguiremos aproveitar. Doutra forma, nem teríamos precisado de
reservar hotel.
- Calma. Claro que precisamos de
descansar, mas…. Há muitas formas de descansar…
- Há… - disse ela, levantando-se da
cadeira e dirigindo-se ao funcionário para pagar.
José percebeu bem que, mais uma vez,
a tinha provocado e tirado do sério, mas continuou a provocação.
- Estás a gostar?
- Sim, respondeu ela, muito.
- Então para que vamos dormir, nesta
cidade maravilhosa?
- Porque amanhã é outro dia, porque
temos de ter forças para conhecer esta bela cidade e porque pagamos um hotel.
- Sim e o hotel é muito bom por
sinal… No pouco tempo que lá estive percebi isso. Podemos aproveitá-lo de
muitas formas.
Ela olhou-o com vontade de o
assassinar com o olhar, mas ele matreiro como sempre.
- Calma, vi que tem um espaço de
piscina e sauna que deve ser muito agradável. Podíamos aproveitar, antes do jantar.
Era isso que estava a querer dizer, desde o inicio. Não percebeste? Pensei que
também tinhas visto…
Ela cada vez mais enervada, mas a
tentar manter a calma para não dar o braço a torcer.
- Claro, é para lá que vou… (sorriu)
- Bem me parecia.
Os dias passaram rapidamente, sem
eles darem conta e num repente era o último dia, a ultima aventura por terras
brasileiras.
- Fogo, o tempo passou tão rápido.
Nem nos apercebemos. Estou a adorar – conversava camila sentada debaixo do
guarda-sol com José.
- Sim, tem sido uma experiencia
muito boa, com uma companhia maravilhosa.
O silêncio fez sentir, ambos deram
conta que estava a acabar e a pensar como seria quando chegassem a casa, qual
seria o caminho. Olharam um para o outro, sabendo o que cada um pensava e José,
quebrando o silêncio, disse:
- Depois? Depois, logo se vê, vamos
mas é, aproveitar o tempo que nos resta e vamos dar um mergulho.
Levantou-se, puxou o braço de Camila
e lá foram.
O dia passou num ápice e quando
deram conta, já arrumavam as malas que amanhã bem cedo tinham de estar no
aeroporto. Mal conversavam, a não para pedir que lhe chegassem isto ou aquilo.
Ambos estavam receosos do que viria pela frente, do futuro. Ambos sabiam que
estava na hora de decidirem. O tempo do “amigo” chegou ao fim com esta viagem.
Tudo pronto, malas ao canto do
quarto e:
- Bem, vou tomar banho – disse
Camila.
- Posso fazer-te companhia? – disse
José, com o seu olhar doce e malicioso.
- Se pedires muito – sorriu Camila
provocando, pegando na toalha e dirigindo-se para a casa de banho.
- Bom dia! Vamos lá para a
realidade? – disse Camila, quando o despertador tocou.
- Hummm. Tem mesmo de ser? Queria
ficar aqui para sempre, contigo.
Ela corou, mas de alegria.
Um beijo na testa, um carinho nos
cabelos compridos e toca a levantar que não há tempo para mais.
A entrada nas portas de vidro eram o
adeus à cidade maravilhosa, o inicio de algo novo, quem nem um nem outro sabiam
o quê.
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