quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Um dia vou escrever um livro…para já fico-me por um ensaio (Cap. VII)

Cap.VII

“Senhores passageiros apertem os cintos que estamos a minutos de aterrar. O tempo está de chuva e ventoso, sendo provável alguma turbulência na aterragem”.

A voz da hospedeira acordou Camila e José que dormiram grande parte da viagem.
- De volta à realidade – disse Camila, ainda na manga de saída, com olhar fastioso.
- Pois… Depois do sol, este tempo chuvoso e frio…
José sabia bem que não era ao tempo que Camila se referia, mas não quis alimentar a conversa que era necessária, mas que não achava ser o momento.
Já com as malas na mão, os dois dirigiram-se ao parque de estacionamento, onde o carro estava parado há 15 dias e seguiram viagem até casa dela.
As palavras entre os dois eram quase que arrancadas a ferros e Camila só pensava em como era possível depois de duas semanas fantásticas, agora estarem a agir como dois estranhos.
“Está na hora de conversarmos. Vai ser hoje” – pensava ela.
José para o carro, em frente a casa de Camila. Sai, sem lhe dar tempo de falar, e dirige-se à mala.
- Posso levar-te a mala para dentro?
- Claro, a minha casa está sempre aberta, para ti.
Ele olhou-a de soslaio e sorriu. Ela corou, pensando que, mais uma vez, calada dizia tudo.
Entraram, colocaram a mala encostada a um canto e…. “e agora o que fazer”, pensaram os dois.
Ela que, apesar de tudo, era mais desenrascada disse:
- Bem, vamos fazer alguma coisa para comer? Depois de tantas horas, acho que merecemos.
- Estava a ver que não – disse José, piscando o olho.
Dirigiram-se para a cozinha. Não havia muita coisa por onde escolher já que tinham estado algum tempo fora, mas ingredientes para uma massa com atum, ainda havia. Pareciam dois adolescentes, num parque de campismo.
Enquanto ela preparava o jantar, ele foi logo preparar a mesa.
- O que bebemos? – perguntou José, enquanto retirava os copos do armário da sala.
- O que queres beber? – disse ela.
- Bem, com esse manjar que estamos a preparar….se calhar…. Uma cerveja, não?
- Parece-me bem – disse Camila, com voz sorridente.
Depois de tudo pronto, sentaram-se ambos à mesa e os pensamentos voltaram a assolar Camila. Pensava que era o momento de falarem, mas todas as vezes que tentava começar, era interrompida, por um “mais cerveja” ou “mais massa”. Estava cada vez mais desconfortável, “mas de hoje não podia passar”, pensava ela.
O jantar decorreu normalmente, pelo menos para ele que recordava cada momento da viagem, cada paisagem, cada lugar, sem nunca se referir aos dois, à relação que o era, mas que ambos sempre ignoraram.
- Chove imenso lá fora. Depois de 15 dias de calor intenso, temos de ter cuidado, se não ficamos doentes – disse Camila, inocentemente, mas logo percebendo que iria ser mal interpretada.
- Hummmm. Também acho… Se calhar, com esta chuva e este frio, é melhor ficar cá esta noite, para não constipares.
Camila não controlou um sorriso e abanou a cabeça com desdém.
- Vamos arrumar a cozinha para descansarmos, que já se faz tarde.
- Vamos lá que a noite está fria e não podemos ficar doentes – continuava ele a provocar, mas ela fez de conta.
Dirigiram-se com os pratos para a cozinha, e enquanto ela colocava a loiça na máquina, ele arrumava a bancada por cima da máquina e fazia-a uns carinhos no cabelo sedoso e liso da sua amada.
- Ufa. Deu trabalho este manjar, mas já está tudo direitinho. Acho que está na hora de…. – não terminou a frase porque olhou para o canto da sala e viu a mala que tinha de ser desfeita.
- Nem penses. Não vais agora desfazer a mala. Agora vais descansar.
- Já mandas? – disse ela com ar irónico.
- Nem sabes quanto – disse ele com voz rouca e olhar sorrateiro.
- Está bem…. Vamos ver televisão.
Sentados no sofá, os dois respiraram fundo e começaram a fazer zapping a ver se encontravam algo que os fizesse parar, mas nada os convencia. Estiveram assim um bom tempo, tendo adormecido.
Camila acordou já de madrugada, com o braço adormecido, abraçada a José. Levantou-se e acordou-o para se deitarem confortavelmente na cama.
Aborrecidos, os dois foram para o quarto, sem trocar uma palavra.


A chuva que batia na janela fazia adivinhar mais um dia cinzento e frio. Era sábado, para quê levantar cedo, se se estava tão bem debaixo do édredon de penas que ambos compraram.
- Bom dia alegria! – José acordou bem-disposto e preparado para um dia de descanso, talvez entre a sala e o quarto.
Camila despertou, mas os olhos teimavam em não abrir, tal era a vontade de dormir mais um pouco.
- Que horas são? – perguntou com voz roupa.
- Horas de preparar o pequeno-almoço, que o jantar de ontem…
Ela lembrou-se do que comeram quando chegaram e sorriu.
- Vou preparar alguma coisa – disse.
- Nada disso – ripostou ele. O pequeno-almoço fica por minha conta.
Depois de lhe dar um beijo na testa e ter sussurrado que a amava, desceu da cama e dirigiu-se à cozinha, onde pouco ou nada havia. Mas não podia falhar. Começou a abrir os armários, viu uma caixa com cereais, uns pacotes meio cheios de bolachas e pensou “o que faço agora”. Foi ao frigorífico, havia umas laranjas ainda em bom estado e um pacote de leite por abrir, dentro da data.
Com o pouco que tinha fez um belo pequeno-almoço que levou à sua amada.
Com a bandeja na mão, exclamou: - foi o que se conseguiu arranjar.
Ela sorriu e sentou-se na cama. Os dois comeram, com a chuva como companhia.
O tabuleiro ficou vazio num instante e foi colocada ao lado da cama.
Recostaram-se na cabeceira da cama e começaram a recordar os dias maravilhosos, numa cidade ainda mais bonita.

“Temos de falar e não pode passar mais tempo” – pensou ela, novamente.
- Temos….

- E se desfrutássemos agora da chuva que cai la fora e nos deitássemos mais um bocadinho?  - voz e olhar matreiro.
“Será que não vou conseguir falar com ele de uma vez por todas” – pensava furiosa.
- Vá, relaxa, hoje o dia vai ser para isso.
Agarrou-a num abraço apertado e, mais uma vez, perceberam que o amor era mais forte…

Adormeceram…

O som do telemóvel acordou os dois e, do outro lado, a mãe de Camila perguntava como tinha sido a viagem, se chegou bem, como foi tudo, enfim, um verdadeiro questionário que ela não queria responder, pelo menos agora.

Lá foi dizendo que foi tudo maravilhoso, mas, numa tentativa de conseguir desligar, disse que depois lhe contava todos os pormenores.

- A tua mãe não quer saber tudo…quer saber de nós.

“Era agora o momento” – pensou ela.

- Quer ela e quero eu – encheu-se de coragem e falou.
- Que queres saber? – questionou ele com sorriso matreiro, como só ele sabia fazer.
- O que somos e como estamos?
- Somos nós e estamos bem.
Ela começou a ficar sem paciência – ele sabia bem como lhe provocar nervosismo.
- Ok… disse ela.
José percebeu que já a tinha conseguido irritar e entrelaçou-se no corpo de Camila e disse:
- Não tenhas medo. Eu sou e serei sempre teu, enquanto assim o desejares.
Os olhos dela encheram-se de brilho, mas, ao mesmo tempo, de medo. Será que estavam finalmente a assumir um relacionamento?
- Achas que te vou deixar, achas que não quero estar contigo, que não quero acordar contigo todos os dias? Só não o farei se não quiseres.
Ela sorriu e abraçou-o com todas as suas forças.
- Estavas desde que o avião descolou com esse desconforto, não foste capaz de abordar. Esse medo desnecessário. Como te conheço minha pequena – ele sabia bem como a deixar sem jeito.
Corou, mas não se deu por satisfeita.
- E tu não tiveste as mesmas dúvidas, os mesmos receios?
- Eu porque deveria ter? A nossa viagem não foi mais que uma lua-de-mel antecipada e eu sabia que tu eras e és a mulher que quero para mim. A não ser que tu não queiras…

Ela olhou-o nos olhos e apenas lhe deu um beijo terno e doce nos lábios.

A celebração do amor deu-se ali naquele momento.




Para quem já não se lembra, ou nunca leu os outros capítulos, pode ver nos links:







http://jornalistafelgueirense.blogspot.pt/search?updated-max=2015-05-14T00:50:00%2B01:00&max-results=7

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Amor incondicional





O que é o amor incondicional? Para mim é simplesmente amar – amar sem medida, sem hesitação, sem mais nem para quê.

Conheci esse amor há mais de duas décadas e veio culminar, faz hoje sete anos.
O João veio trazer novamente a alegria de ver crescer, de sorrir e rir de todas as traquinices e frases que parecem de um adulto - sim e ele tem-nas a cada instante, a cada momento.
Há sete anos, a família aumentou e que bom que foi ter mais um membro deste corpo que somos.
Abraçar, beijar, acariciar aquele ser pequenino, que hoje já começa a pensar por si e a ser teimoso q.b., é bom demais.
Há sete anos, pensava em como iria ser, que feitio iria ter, se iria ser parecido com alguém da família. Hoje posso dizer que é diferente, porque todos o somos, mas tem um pouco de cada um, conjugado com uma personalidade que é só sua.
Atento a tudo o que se passa, a cada pormenor, é, sem dúvida, um curioso.
O amor pelos bombeiros é a sua maior característica. Conhece cada carro, cada toque, cada farda de qualquer corporação de qualquer país.
O nosso pequeno bombeiro está hoje de parabéns! Que sejam mais setenta vezes sete, como dizem as escrituras, e que eu te veja sempre com esse sorriso, com esse amor que tens no teu pequenino coração!

Gosto-te daqui até à lua!

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Sonhos




“A vida que sonhei… Ai a vida que sonhei” – pensava a menina frágil, mas que todos conheciam como forte.
A menina que se via, agora, sem rumo, sem vontade de nada, estava ali parada a olhar para o céu, à espera que de lá, de onde moram as estrelas, na escuridão da noite, lhe fossem dadas as respostas que queria, as respostas que tanto procurava para a sua vida, para a vida que sonhou.
“Mas sonho, o que é o sonho?” – deu por si a pensar e a questionar.
 Se sonhos não passam disso, de ilusões do cérebro durante o sono, porque queria ela uma vida de sonho?
Ela não sabia, mas sabia que a vida que tinha, não era a que queria. Queria mais, muito mais. “Mas mais do quê?” – Continuava ela a perguntar às estrelas. De lá, onde  estavam os pontos de luz reluzentes e resplandecentes, as respostas eram…. eram nenhumas, porque ela não sabia, mas as respostas estavam cá, onde ela estava, onde não havia sonhos, onde existia ela, as pessoas à sua volta e tudo aquilo que não queria, mas que a acompanhava, porque a realidade é essa, o sonho é ilusão.
A menina passou horas à espera que de lá, onde a ensinaram que, além das constelações de estrelas e planetas, morava Deus, viessem as respostas que tanto procurava… as respostas da vida que sonhou, mas que, se era sonho, não era verdade, mas ela não sabia.
De tanto olhar para o infinito, a menina adormeceu e sonhou, sonhou que a sua vida havia mudado, tinha finalmente tudo o que queria, tudo o que um dia estipulou para si.
Quando os pontinhos de luz deram lugar a uma luz grande, de um dourado incandescente, ela abriu os olhos e, mais uma vez, percebeu que aquilo que sonhou para si, não passava disso mesmo de um “sonho”.


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O que a natureza dá e o Homem transforma




Portugal tem sem dúvida locais absolutamente fantásticos. De norte a sul, encontramos paisagens de sonho que, muitas vezes, são desvalorizadas.
 Quantas vezes, procuramos lá fora o que cá dentro temos muito melhor? Vezes sem conta. Como se costuma dizer “santos da casa não são adorados” e é bem verdade.
Adoro conhecer locais diferentes e, quem me conhece, sabe que tudo que é natureza me enche os olhos rasgados.
No último fim de semana, tive mais uma experiência fantástica, desta vez junto ao Rio Paiva, mais concretamente no Arouca Geopark, um local que a natureza concebeu de uma beleza extrema e que as mãos do Homem transformaram num espaço visitável e acessível a quem quiser por lá passar. São oito quilómetros de montanha, rio, fauna e flora fantásticos que enchem os olhos de quem decide ganhar um dia de ar puro, acompanhado de lazer e conhecimento.
No final da caminhada, um belo repasto numa manta qualquer, junto ao rio, onde se ouve pouco mais que o chilrear dos pássaros. Depois - ah depois - não se pode sair dali sem experimentar a água límpida do rio que acompanha o visitante, sem se cansar, ao longo de toda a caminhada, sempre ao longe, mas sempre atento e a querer mostrar-se. 
Agora, com ele ali ao lado, há que molhar, pelo menos os pezinhos, e tirar umas belas fotos.

Os Passadiços do Paiva valem a pena. Aconselho!

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Pessoas que ajudam quem mais precisa




Conheci por acaso, no meio do acaso - talvez abençoada pelo local onde me encontrava - alguém que me apaixonou com as suas palavras, com a sua história de vida, com a sua forma de ajudar o próximo.


“Passo muito tempo na Namíbia” – ouvi, no meio de uma conversa, esta afirmação e, como curiosa, questionei, porquê. Do porquê, ao quem, quando, como, onde, foi apenas um instante e, de repente, a conversa desenvolveu-se e eu ficava, cada vez mais, apaixonada pelo que ouvia.
A história foi-me contada, sem que do outro lado, aquela pessoa se apercebesse o quanto eu estava deliciada com cada palavra, com cada afirmação. Falava-me da experiência de forma vaga, mas eu queria mais, queria pormenores, queria entender o que leva alguém a deixar o conforto do lar para uma missão difícil como esta.
No final, vim de coração cheio, cheio de uma história como poucas, que envolve humanismo, doação e acima de tudo amor – amor por aqueles que estão lá longe num país africano, numa tribo como tantas outras, mas que já considera como “sua”.
Com os olhos cheios de água, falava, de forma terna e meiga, dos meninos e meninas, como já sendo membros da sua família. Com a voz embargada, ela lá ia contando as experiências vividas junto da “família” que não é a sua, mas que adotou como tal.
Com o passar do tempo, apetecia-me, cada vez mais e mais, saber como viviam, como pensavam e, acima de tudo, como sobreviviam aqueles que “nunca viram a luz artificial”, aqueles meninos que partilham tudo, desde comida, a roupa.
- “Ela carrega na parede e fica dia” – lembrava uma das frases ouvidas no meio do mato, a mulher, mais uma vez emocionada, com o olhar, lá longe, onde ficaram aquelas crianças que precisam de ajuda, mas que vivem felizes com o pouco que têm. Este foi apenas um exemplo, mas na conversa, percebi que havia muitos mais.
As saudades apertam e ela confessa-me que gostaria de passar lá mais tempo, que lá é o seu mundo, que aquelas pessoas são quem lhe dá vontade de viver e fazer mais e mais, mas a consciência de que é cá que pode arranjar meios para colaborar e fazer daquela, uma comunidade melhor, com mais condições, fá-la descer ao mundo e pensar que se está longe deles é para ajudar.
Criou uma associação que começa a dar os primeiros passos, mas que já deu frutos, nomeadamente uma operação a uma criança que estava cega por causa de cataratas nos olhos. Ajudou essa, mas quer ajudar muitas mais e é, nesse propósito, que, juntamente com o marido, trabalha.
Há acasos da vida que nos fazem pensar e um acaso da vida, fez esta mulher sair do seu conforto, da sua vida agitada e ir à aventura - aventura que lhe deu uma nova família, um novo amor e uma nova visão das necessidades da vida!

Parabéns San Foundation!

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