Cap.
IV
A
beleza do amanhecer fê-la pensar no excelente fim de semana que passou. Um
sorriso, nos lábios, cabelo atrás da orelha e, finalmente, carrega no acelerador rumo
ao trabalho.
O
dia era igual a todos os outros, o mesmo itinerário, as mesmas ruas, as mesmas
pessoas…. Mas para Camila, hoje tudo parecia diferente. Em tudo via beleza,
cumprimentava todas as pessoas, como se as conhece, e a música, essa tocava bem
alto no seu leitor de cd’s. “Beautiful day”, dos U2, nada melhor, nesta segunda
de manhã.
Estaciona
o carro, baixa o som do rádio, e encosta a cabaça ao banco, sorrindo ao
lembrar-se das aventuras de final de semana.
Hoje
tudo parecia diferente, as cores, os brilhos, até mesmo os próprios alunos.
Como
de costume, Camila já estava na sala de aula quando a campainha avisou os alunos
que estava na hora. Eles entraram e reparam no brilho dos seus olhos, que era,
sem dúvida, diferente. Uns mais atrevidos comentaram e ela, sorrindo corada, lá mudou de assunto, mas não desmentiu.
O
gosto por falar, por contar estórias da história, era, de fato, algo que lhe
enchia o ego e a fazia esquecer tudo resto. O seu envolvimento com a sua profissão
fazia-a esquecer o mundo. Muitas vezes, até o telemóvel passava despercebido,
mas, nesse dia, não.
A
campainha voltou a tocar, era hora de saída para descanso e enquanto os alunos
deixavam a sala de aula, Camila não conseguiu esperar e foi direta à carteira
ver o telemóvel.
Tinha
uma mensagem. Pensou, “é do José”. Sorriu para o telemóvel, sentindo-se uma
adolescente, desesperada para saber o que dizia. O semblante mudou e Camila
ficou incrédula - a mensagem era de António.
“Bom
dia. Há muito que não te falo, mas gostava de saber se está tudo bem. Tenho
saudades”, dizia.
Ao
ler aquilo, os olhos de Camila encheram-se de lágrimas e raiva. “Este homem não
me deixa em paz. Agora que as coisas começam a mudar para mim, ele volta a
aparecer”, pensou.
Camila
decidiu desligar o telemóvel e continuar o seu dia. A manhã decorreu
normalmente e o telemóvel continuava na carteira desligado para não atrapalhar
os seus pensamentos.
Como
não tinha aulas da parte da tarde, Camila decidiu convidar a melhor amiga,
Joana, e ir até ao Shopping.
No
caminho, a professora não resistiu e contou o seu fim de semana e o que tinha
acontecido de manhã. Joana ficou feliz e disse a Camila desconfiar que António
tenha terminado a relação que o fez esquecer-se dela.
-
Não caias. Ele deixou de te falar sem mais nem para quê. E agora vem com
falinhas mansas. Não te fies. Relativamente ao José, investe, ele é um querido.
– disse Joana.
Camila
ficou calada com os pensamentos longe e apercebendo-se que a amiga tinha
terminado respondeu.
-
Ele tinha de aparecer agora. Foi um fim de semana tão bom, mal me lembrei dele
e hoje de manhã aquela mensagem.
Ao
lembrar-se da mensagem, recordou-se também que tinha desligado o telemóvel. Voltou
de novo à carteira, ligou-o e tinha duas mensagens. Uma de José e mais uma de
António.
António
dizia que estava arrependido de se ter afastado, que queria falar com ela e
José relembrava o fim de semana, dizendo que queria repetir, não só ao fim de
semana, mas, se possível, todos os dias.
Os
olhos dela sorriram, ficou feliz. A mensagem do António ficou a
marinar, ao contrário, a de José merecia resposta. “Mas o que responder?”,
pensou e perguntou a Joana.
Joana
que tinha um feitio mais pró, mais ativo, mais à frente, aconselhou-a a dizer “anda
já hoje”. Claro que Camila não o fez, era muito ponderada, muito “pés assentes
na terra”.
Depois
de pensar, respondeu “Eu também gostei do fim de semana. O futuro, vamos
fazê-lo lentamente”. Do outro lado, a resposta foi um sorriso e um beijo.
O
telemóvel voltou para o saco e as duas lá foram para o Shopping, onde percorreram
as lojas todas, viram todas as tendências, comprando aqui e ali. Quando se
aperceberam era hora de jantar. Comeram por ali mesmo e no final voltaram a
casa.
-
Boa noite. Gostei muito, como o costume – disse Joana ao sair do carro.
-
Eu também, agora vamos dormir que amanhã regressamos ao trabalho – respondeu Camila,
arrancando.
Entrou
em casa, colocou as chaves na prateleira da entrada e sentou-se finalmente no sofá,
apercebendo-se que estava com dores nas pernas (pudera, depois de uma tarde sem
parar no shopping). Decidiu pegar no telemóvel e lá tinha uma mensagem de José,
mais uma mensagem querida de alguém que estava claramente a querer conquistar. Ela
respondeu no mesmo “tom” e começou ali uma troca de mensagens que só terminou de
madrugada, quando ambos se deixaram vencer pelo sono, tendo, antes disso,
combinado café para o dia seguinte à noite.
A
terça feira parecia não terminar, Camila só pensava como seria, o que devia
fazer ao chegar perto dele, como reagir. Que roupa vestir, como arranjar o
cabelo….o toque da campainha fê-la saltar da cadeira e os alunos sorriram. Era
a última aula e Camila tinha de ir para casa arranjar-se.
Saiu
da escola e no caminho de casa, encontrou António na rua que ficou com olhar
triste a olhar para dentro do carro. Ela que ficou com a mesma sensação de
tristeza, não demonstrou, fez de conta que não o viu e olhou para a frente,
sorrindo, embora, por dentro, lhe apetece chorar. Decidiu não fazê-lo porque,
daí a pouco, iria estar bem, com alguém que era especial, alguém que a fazia
sentir especial.
21H00
em ponto, a hora combinada, a campainha de casa toca. O coração de Camila tremeu,
mas ela controlou-se e abriu a porta. O embaraço começou logo ali, nem um nem
outro sabiam muito bem como se cumprimentar. Até que José tomou as rédeas e
deu-lhe um beijo leve nos lábios.
Camila
convidou-o a entrar, levando-o até à sala, enquanto foi calçar-se. Pronta,
entrou na sala e sentiu-se completamente observada da cabeça aos pés. Corou e
ainda não recomposta, José diz-lhe que está linda.
Ela
sorriu, muito embaraçada e disse: – Vamos.
Foram
até um bar, conversaram, trocaram uns carinhos, falaram do trabalho, dos alunos
de Camila e dos problemas informáticos que José tinha resolvido nas últimas
horas, já que era engenheiro informático.
Quando
olharam para o relógio, já era tarde. Decidiram pagar e ir embora. Ao chegar a
casa, Camila não o convidou para entrar, era tarde, e sabia que se entrasse, poderia
ser perigoso. Deu-lhe um beijo de boa noite e despediu-se.
Ele
ficou a olhar enquanto ela entrava em casa. Ao fechar a porta, Camila sorriu e
pensou que estava a começar a interessar-se por aquele sorriso maroto de José,
mas isso era algo que não queria, porque tinha sofrido muito e ainda não tinha
passado muito tempo.
“Não,
não vou deixar de me dar uma oportunidade só porque um idiota me magoou”,
pensou e foi dormir.
As
semanas foram passando, todas as manhãs, Camila era acordada com uma mensagem de
bom dia, enviada por José, e quase todos os dias se encontravam, sendo que os
fins de semana já eram pensados em conjunto. No entanto, não falavam de namoro,
diziam-se amigos.
O
sorriso de Camila transformou-se, a alegria de viver e de amar começou a ganhar
forma e António só surgia na sua cabeça quando ele próprio fazia questão de a
lembrar que existia.