quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

União Desportiva de Várzea conquista prémios europeus


Juniores femininos de Várzea foram à Turquia e trouxeram na bagagem o título de vice-campeãs da Taça de Clubes Campeões Europeus de corta-mato e atleta Daniela Cunha sagrou-se campeã da Taça de Clubes


Um fim-de-semana inesquecível na história da União Desportiva de Várzea (UDV). É desta forma que atletas, directores e treinador recordam a prova que levou o clube de Felgueiras a ganhar dois prémios internacionais.
Tudo aconteceu, no passado dia 1 de Fevereiro, em Uskudar, Istambul, na Turquia, quando a equipa de juniores femininos da União Desportiva de Várzea, composta por seis atletas, se destacou das restantes participantes europeias e arrecadou a prata, na prova de corta-mato da Taça de Clubes Campeões Europeus. Não satisfeita, a atleta Daniela Cunha foi também campeã da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
Apesar dos muitos prémios que conquistou na sua carreira, Daniela Cunha, de 18 anos, fala de uma prova especial, que dificilmente vai esquecer. “Subir ao pódio nesta prova foi muito bom, foi a minha primeira experiência lá fora, uma sensação, que não escondo, gostava de repetir”, confessa, ressalvando, no entanto, que mais importante que o prémio individual, foi ajudar a equipa. “Não escondo que gostei de receber e de ganhar a taça de campeã de clubes campeões europeus, mas senti-me muito melhor por saber que ajudei a equipa”, explica.
Ao EXPRESSO DE FELGUEIRAS, a atleta relembra, com emoção, o momento em que recebeu a medalha, salientando que foram muitas as pessoas de quem se lembrou. “Para mim foi uma alegria muito grande quando me vi em cima do pódio, no primeiro lugar. Pensei e dediquei a minha medalha a algumas pessoas importantes na minha vida pessoal e enquanto atleta. Eles sabem quem são”, disse.
Nos últimos anos, a atleta da UDV tem ganho muitas medalhas, mas, confessa que esta vai merecer lugar de destaque. “Vou pendurá-la no meu quarto. Esta vai ser a primeira a ir para lá. Não vou dizer que as outras não são importantes, também tive de lutar muito por elas, mas esta foi uma vitória sentida de maneira diferente”, explica.
Apesar de ter começado a correr já tarde, com 14 anos, depois de contactada pelo treinador Carlos Mendes, Daniela Cunha depressa ganhou o gosto à modalidade e hoje não pensa fazer outra coisa na vida se não dedicar-se a cem por cento ao desporto, em concreto ao atletismo. A atleta tem um carinho especial pelo clube que foi a sua escola e onde tem muitos amigos, mas tem consciência que, tendo em conta as limitações da colectividade, será difícil permanecer na União Desportiva de Várzea no futuro. “Quero fazer do atletismo profissão. Agora estou no Várzea e é por ele que dou tudo de mim, mas tenho consciência que, no futuro, não será fácil o clube conseguir manter-me, devido às limitações que tem. Mas enquanto cá estiver, prometo levar o nome da UDV o mais longe possível”, esclarece.


«O segredo para tantos prémios é muito trabalho e muita dedicação»

As limitações que a UDV enfrenta são também a principal dificuldade do treinador da equipa Carlos Mendes, que foi recentemente eleito o melhor treinador de atletismo do Norte, pelo Instituto do Desporto Português.
Na União Desportiva de Várzea, desde de 1993, Carlos Mendes já levou a equipa a receber dezenas de prémios a nível nacional, culminando agora com estes prémios europeus.
O treinador, que tem também as tarefas de transportar os atletas diariamente para o treino e de massagista fala do prémio como sendo o reflexo do trabalho de equipa, feito ao longo dos anos. “O segredo para tantos prémios é muito trabalho, muita dedicação, não só da minha parte e dos atletas, mas também das direcções que têm estado à frente do clube, particularmente esta que se tem mantido presente e ajuda na logística diária, nomeadamente no transporte dos atletas”, refere.
Mas, a tarefa do empregado fabril, que nas noites de segunda a sexta e ao fim-de-semana se transforma em treinador, nem sempre é fácil. Deixar a família para segundo plano para dar apoio aos cerca de cinquenta corredores da equipa é quase uma constante no dia-a-dia de Carlos Mendes. Apesar das contrariedades e das dificuldades, é com orgulho que o treinador fala dos seus atletas e da colectividade onde está há cerca de 16 anos. “Eu trabalho numa fábrica das 8h00 às 18H00, mal saio do meu trabalho, a minha tarefa é ir buscar os atletas que são oriundos de vários pontos do concelho, trazê-los para a piscina, orientar o treino e no final da sessão, ajudar no plano físico, nomeadamente com massagens aos corredores. Não é fácil, muitas vezes não vejo a minha filha durante mais de dois dias. Mas depois são estas alegrias que fazem com que o trabalho realizado compense tudo”, revela.
Depois da Turquia, o objectivo é conquistar muitos mais prémios, com muito trabalho e esforço, motivando os atletas.
No entanto, apesar do bom trabalho desempenhado por todos, Carlos Mendes diz que é necessário haver um maior reconhecimento, por parte da sociedade, por um clube que se tem destacado quer a nível nacional, quer a nível internacional. “Em geral, a sociedade não reconhece muito valor à UDV. Se os resultados que temos fossem noutra modalidade tenho as certezas que teriam outro impacto. As pessoas não têm noção do nosso trabalho”, desabafa, falando ainda na importância do clube ter uma sede própria.

«O meu sonho era ter uma sede onde pudéssemos mostrar todos os nossos troféus»

De resto este é também uma dos maiores problemas apontados pelo presidente da direcção da colectividade. À frente dos destinos da UDV há três anos, Joaquim Machado ainda não perdeu a esperança de ver a Taça dos Campeões Europeus e todos os outros troféus arrecadados, ao longo de mais de trinta anos, expostos numa sede da instituição.
Nos últimos anos, os atletas têm usufruído das instalações da Piscina Municipal de Felgueiras, que segundo o presidente da direcção são boas. No entanto, uma sede própria daria outra dimensão ao clube e aos atletas. “O nosso maior problema é a falta de uma sede. Não posso negar que temos todas as condições aqui na piscina municipal, mas ter um espaço nosso, onde nos possamos movimentar à vontade e, acima de tudo, mostrar o nosso trabalho é essencial”, salienta, esperando que este título internacional traga mais-valias ao clube. “Vamos ver se este prémio proporciona mais reconhecimento à UDV e quem sabe possamos sonhar mais alto e ver no futuro uma Daniela Cunha ou um Rui Pinto como seniores de alta competição na colectividade”, diz.
Com cerca de duzentos sócios, a par da falta de sede, os problemas económicos são outro dos maiores problemas da colectividade que vive essencialmente das quotas, de patrocínios e de algumas actividades que vão promovendo ao longo do ano.

texto de Aureliana Gomes, publicado in Expresso de Felgueiras