segunda-feira, 28 de abril de 2008

«O Senhor Parkinson quis viver comigo e eu tive de me habituar a viver com ele»

>> Na semana em que se comemorou o Dia Mundial da Doença de Parkinson, o Expresso de Felgueiras foi conhecer um caso, em que a doença apareceu aos 32 anos de idade

Cerca de 20 mil portugueses sofrem de Parkinson, uma doença degenerativa que afecta sobretudo homens, entre os 50 e os 70 anos, mas há casos em que a doença aparece mais cedo.
É o caso de Luís Teixeira, de 46 anos, a quem foi diagnosticada a doença com apenas 32 anos. Casado e pai de dois filhos, viu-se obrigado a deixar o emprego e a aprender a viver mais devagar. Hoje encara a doença como uma prova de vida.
Sob o olhar atento da mulher, que carinhosamente lhe massaja a mão esquerda, a mais afectada pela doença, e dos filhos, Luís Teixeira recordou, ao EXPRESSO DE FELGUEIRAS, como soube que da doença. “Tudo começou com uma dor ligeira no ombro. Tinha um amigo médico que pensou que fosse uma dor reumática e receitou-me uns analgésicos”, lembrou, explicando que, poucos dias depois, o diagnóstico se alterou por completo. “Quinze dias depois, fui almoçar com esse médico e ao tentar levar uma garfada de arroz à boca não consegui. O médico alarmou-se e disse que o meu problema deveria ser outro, encaminhando-me para um neurologista. Depois dos exames, o especialista chamou-me para me revelar o resultado, mas eu adiantei-me e disse-lhe ‘é Parkinson, não é?’. Não fiquei alarmado, já que os sintomas iniciais também podiam ser de um temor cerebral, o que seria bem mais complicado”, salientou.
Há treze anos a viver com o “companheiro inseparável”, as limitações são cada vez maiores. Falta de reflexos, tremores e desequilíbrios são os principais sintomas da doença que lhe afectou essencialmente a parte esquerda. Situações tão simples como apertar ou desapertar um botão, tornam-se para ele uma tarefa complicada. No entanto, acredita que a forma como encara o problema, tem evitado rápida progressão da doença. “A doença tem um nível máximo de cinco, eu ainda não passei do um e meio. Não é fácil, durante estes anos todos, conseguir manter este estado. Mas isto tem a ver com o trato psicológico que dou à doença. Tenho a certeza que em qualquer pessoa que não encara a doença desta forma, ela evolui de maneira drástica. Costumo dizer que o Sr. Parkinson quis viver comigo, eu tenho de aprender a viver com ele e adaptar-me”, frisou.
Apesar de considerar que tem uma vida normal, houve coisas que Luís Teixeira se viu obrigado a abandonar. Jogar futebol foi uma delas. Para além desta paixão, a música e os carros são também presença habitual na sua vida. Embora ainda conduza, tem consciência que, mais cedo ou mais tarde, esta é outra das coisas que a doença lhe vai roubar. “Hoje já quase não conduzo. Adoro automóveis e é, dentro deles, que me sinto bem. Aliás, quando estou pior, meto-me dentro de um carro, para recuperar as forças”.
Treze anos volvidos, desde a descoberta do problema, Luís Texeira diz-se completamente adaptado. Com o olhar fixo na esposa e de seguida nos filhos, que acompanham cada movimento do pai, confessa que sem o apoio da família seria mais difícil ultrapassar as barreiras. “Apesar de encarar bem a doença, isto não é só mérito meu. Sem o apoio deles não seria fácil”, esclarece, lembrando que a família aumentou e agora tem mais uma pessoa na sua vida que lhe dá energia para encarar o problema. “A minha neta veio reforçar ainda mais a minha forma de encarar a doença. Posso dizer que é mais uma razão para continuar a lutar contra o Parkinson”, ressalvou.
Quando lhe foi diagnosticada a doença, os filhos eram ainda crianças, o mais velho tinha 10 anos, a mais nova 4. Apesar de hoje todos se dizerem adaptado, a esposa, Fátima Fontes, confessa que no inicio não foi fácil. “Não escondo que quando soube foi um choque, mas hoje eu dou-lhe força a ele e ele a mim, mais ele a mim. O meu marido tem uma força de vontade enorme”, refere.
De resto, a força de vontade e a alegria de viver foi também uma grande ajuda para que os filhos se habituassem à condição Luís Teixeira. “O meu pai nunca nos escondeu, mas eu não sabia bem o que era esta doença. Lembro-me que, para nos tranquilizar, dizia que, dentro de cinco anos, seria encontrada a cura. Isso ainda não aconteceu, mas já nos habituamos”, recorda Adriano, hoje com 24 anos.
Sem perceber bem as limitações do pai, Isabel, na altura apenas com quatro anos, diz que nunca sentiu as dificuldades do pai no acompanhamento do seu crescimento. “Eu ia sempre com eles às consultas, mas não tinha noção do que se tratava. Com o passar dos anos fui-me habituando. Olhando para trás, não me recordo que alguma vez a doença interferisse no meu crescimento”.
Com a doença mais ou menos controlada, de três em três meses, Luís Teixeira faz uma consulta de rotina.
Embora o Parkinson seja uma doença para a qual ainda não há cura, há uma operação que proporciona mais qualidade de vida aos doentes. Apesar de ter consciência das suas limitações, para já Luís Teixeira recusa-se a pensar nessa possibilidade, considerando um processo “eléctrico” que, na fase em que se encontra a sua doença, não faz sentido.
Com uma força de viver invejável, Luís Teixeira deixa um conselho a todos aqueles que não tenham a mesma capacidade de encarar a doença. "O melhor é olhar para o espelho e acharem-se bonitos. Ninguém é melhor que nós. Só pensando desta forma é que somos capazes de arranjar forças para continuar a viver", concluiu.


Texto de Aureliana Gomes, publicado in EXPRESSO DE FELGUEIRAS